sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Casa das Rosas - contribuição do leitor


 
Acervo Governo de São Paulo


           A leitora Tilma Castrillón de Macêdo nos mandou de São Paulo, imagens do centro cultural casa das Rosas. Para quem ainda não conhece, é uma mansão da época dos barões do café, localizada na Avenida Paulista, concluída pelo arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo em 1935. Seus herdeiros viveram lá até 1980, quando a glamorosa Paulista era um retrato da crise generalizada e do pessimismo camuflado que tomavam o mundo. Foi salva da demolição em 1991, transformada em centro cultural, e hoje divide seu lote original com um edifício comercial, na parte que dá para a Alameda Santos.


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            Além do magnífico acervo que é o próprio prédio, hoje uma jóia cercada por deprimentes e patológicos caixotes de vidro, oferece também cursos públicos e palestras livres. A Casa das Rosas fica na Avenida Paulista, Bela Vista, nº 37 e tem entrada gratuita; quer dizer, manutenção e ingresso pagos previamente pelos impostos, então ela é sua também.

Anos 1980. Acervo Vovó Neuza

            Sem mais delongas, as photos bucólicas e enternecedoras que a Tilma nos enviou.

Photo de época
Apresentando o pé da Tilma :-)

            Ela foi tomar café com a amiga e colega Najla Citrângulo, após uma palestra de Vigilância sanitária, em sua viagem a trabalho.


            Notem que até o sanitário oferece um requinte sóbrio e reconfortante, com decoração compatível com a época da construção.



Sobre o centro cultural Casa das rosas, clicar aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.


Vídeo de Eric M. Guimarães:

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

O mundo dourado em sua mesa - Diorama

 
Obra de George O'Keeffe

           É bem difícil encontrar uma pessoa que não se encante com uma bela maquete, uma miniatura bem-feita, ou um diorama com grande riqueza de detalhes. Eu conheço gente assim, por isso posso dizer que é uma minoria indigna de qualquer estatística séria. No máximo traço de gráfico. Principalmente para quem não tem disponibilidade de espaço, seja em casa, seja em um espaço alugado ou cedido, uma coleção de miniaturas de boa qualidade enriquece muito qualquer ambiente, ainda mais quando se trata de um vintagista, que geralmente tem bom gosto acima da média. Há quem compre maquetes de lançamentos imobiliários, quando a obra fica pronta e as unidades já foram vendidas… uma maquete de trinta andares cabe na sala e, ao contrário do edifício, pode ser admirada em todos os ângulos e decorada ao gosto do dono, para efemérides, sem precisar da autorização do condomínio.

            Mesmo aqueles que podem ter os objectos originais, às vezes principalmente essas pessoas, têm um brilho quase pueril no olhar, ante a possibilidade de ter uma versão menor, que possa ser apreciada de modo que as dimensões do original não permitem. No caso de um carro, admirar a parte de baixo sem precisar de um elevador de oficina, e sem o risco de um acidente fatal, é uma terapia para conhecedores. Isso além do facto de que alguns carros são tão raros e disputados, que é mais fácil conseguir as fortunas que eles custam, do que alguém disposto a vender o seu. Já soube de um divórcio, nos anos 1980, por conta de um Duesemberg… a miniatura mais avantajada, cara e ricamente detalhada, não teria causado isso.

Elgin Park e uma de suas obras

            Vamos ao básico. As diferenças fronteiriças entre miniatura, maquete e diorama não são rígidas e digitais, na verdade são muito analógicas e às vezes a linha que os divide é larga e difusa, como as próprias fases das décadas passadas.

            Miniatura é justamente o que o nome diz, uma versão menor do que o objecto representado. É como um genérico de maquete e diorama. Se fosse do mesmo tamanho, seria réplica, que é outra coisa e outro assunto para um texto futuro. A miniatura pode ser um simples brinquedo mais sofisticado, com boa dose de detalhismo para alegrar uma criança, mas também pode ser uma réplica em escala; um modo chique para denominar versões menores que são tão ricas em detalhes e em que as partes funcionam de modo tão fiel ao original, que uma boa sessão photográphica enganaria até mesmo experts, fazendo-os pensar que se trata de um original.

            Maquete é uma representação em tamanho menor de uma obra de grandes dimensões, mais utilizada na indústria da construção para que os potenciais clientes tenham uma idéia precisa do que pretendem comprar… ok, sabemos que muitas vezes existe uma distância astronômica entre o que é apresentado, e o que é realmente entregue, mas isso é um problema para o Procon, a polícia e o senso de direito e união de consumidores, que o brasileiro não tem. Enfim, a maquete é a miniatura levada ao profissionalismo, mas por isso mesmo se tornando algo mais, pela necessidade de dados e história e/ou prognósticos de que uma mera miniatura prescinde. E um prognóstico nada mais é do que uma especulação, por mais embasamento que tenha, da história futura. E história é justo o que conta uma réplica em escala de um P-47 Thunderbolt, por exemplo.


            Diorama… não, não me refiro a um evento da Dior e nem à pequena cidade do interior de Goiás. Diorama é quando a maquete é contextualizada no espaço-tempo. Por exemplo, uma réplica em escala de uma parede em ruínas com um piso de época e um soldado morto, se tiver bom grau de realismo, é um diorama de guerra, ainda que seja guerra urbana. E é aqui que o diorama se põe no topo da hierarquia dos três, existe a necessidade de realismo, o que quase sempre o torna mais caro e difícil de produzir do que uma simples (?) maquete. Um bom diorama pode levar anos para ficar pronto, mesmo ocupando o espaço de uma pesa pequena.

            A rigor, o primeiro diorama de verdade é o bonsai, ou pelo menos o seu precursor. Surgido na China do século VIII, caiu rapidamente no gosto dos japoneses, com suas sérias restrições de espaço, em especial dos monges, estes então podiam ter uma boa lembrança de um lugar sem precisar se apegar a ele, e sem possuir mais do que é capaz de carregar. Por volta do século XVIII o bonsai atingiu o estado de arte de que desfruta hoje, com técnicas tão refinadas que mesmo as menores versões podem ser capazes de gerar flores e frutos, reagindo às estações do ano como qualquer árvore normal. Isso, em um cenário em escala, é o suprassumo do realismo.

            É aqui que as cosias complicam para as pessoas comuns. Bonsais não são baratos e nem muito simples de se manter. Eles precisam de cuidados a mais do que uma simples planta pequena, o que inclui uma poda periódica das raízes, ou a planta vai crescer mais do que o desejado e, tristeza, deixar de ser um bonsai; o crescimento é irreversível. Assim como há pouca gente fazendo bonsais no Brasil, também há poucas aptas a prestar os devidos cuidados, o que dificulta e encarece sua manutenção.

            Embora as partes não vivas de um diorama não cheguem a esse nível de drama, a qualidade do cenário tem preço proporcional, não só em dinheiro, mas também em procedimentos e tempo empregados, tanto na produção quanto na instalação, se for o caso, e na manutenção. Para a alegria dos adeptos desse hobby, que é algo um pouco além de um mero passatempo, por seu caráter de perenidade, a indústria dos cenários em escala produz muita coisa nas escalas oficiais, o que poupa tempo e dinheiro… mas não muito. Figuras de pessoas e animais, plantas, trilhos ferroviários, mobília, cercas, fachadas, veículos, acessórios e uma infinidade de coisinhas que talvez ninguém saiba quantas realmente sejam.

            Essa é a boa notícia.

   
            A má notícia é que é QUASE TUDO importado… e muitas vezes a importação é independente, ou seja, por conta e risco do consumidor final. A feitura do diorama é quase como o restauro de um carro antigo, dificilmente o prazo e o orçamento serão aqueles previstos, sempre aparece um problema. Murphy não descansa. É aqui que entram a arte e o talento da improvisação, tão desenvolvidos no brasileiro… e não, a casa da Barbie não é um diorama. A própria boneca não é realista o suficiente para isso, o que não significa que seus caros acessórios não permitam fazer um belo cenário de época, podem e os fãs mais bem remunerados montam alguns de rara beleza, mas tudo ainda fica com cara de brinquedo. Se é para te fazer feliz, vale sim.

            Para o nosso caso, que seria um diorama de época, bastam um pouco que pesquisa séria com imagens, alguns vídeos temáticos e, se for o caso, consulta a pessoas que se dedicam a estudar o assunto; o YouTube está bem servido delas, não é muito difícil. O mais simples é fazer um cômodo aberto com duas ou três paredes e os móveis. Um quarto, por exemplo, pode ser feito sobrepondo e colando duas caixas de sapatos, que podem ser decoradas com imagens baixadas da internet, devidamente redimensionadas, incluindo papel de parede e piso. Um pouco de habilidades manuais é necessário, porque será preciso recortar, modela e até pintar, por menores que sejam as intervenções. Palitos de espetinho podem tanto reforçar as paredes, quanto formar a estrutura da mobília, com palitos de dentes formando as partes mais delicadas. Retalhos de tecidos, vendidos por uma ninharia, serviriam para a roupa de cama, tapetes e as cortinas, com arremates feitos com cola. Tudo isso pode ser feito em um dia ou dois de trabalho dedicado, com, pelo menos, mais um para tudo ficar curado e consistente para ser levado consigo.

   
             Claro que isso é uma orientação genérica e já considerando que vocês já têm alguma habilidade manual; aqui não dá para se partir do zero absoluto. A receitinha básica e genérica que dei pode ter resultados surpreendentes, para quem tiver paciência e perseverança, se precedidas de uma boa pesquisa de época, algo fácil com a internet; principalmente para quem já tem em mente o que quer. Vocês são no mínimo entusiastas do modo de vida de outras épocas, então vocês têm sim ao menos noção do que querem, alguns até sabem com precisão o que desejam, isso facilita muito mais do que vocês imaginam; poupa muito dinheiro, muito tempo, muitos aborrecimentos e até acidentes de trabalho.

            O passo seguinte é usar chapas de mdf para fazer tudo, mas então a tesoura de costura e a faquinha de mesa não servem mais, é necessário ter ferramental apropriado, embora nada de sofisticado. Algumas lojas fazem corte e modelação a pedido do cliente, não todas, e nem todas o fazem sem custo adicional, mas é uma opção para quem não quer ou não tem condições de fazer a parte pesada do serviço. Felizmente uma chapa mais fina serve bem para nossos propósitos, por menos de R$15,00 dá para comprar uma boa placa crua de 50X50cm, o que é bem grande para um diorama de mesa. Infelizmente as ferramentas adequadas não são tão baratas, porque é um material relativamente resistente e duro, por isso é uma boa idéia terceirizar o corte, porque um erro pode por tudo a perder.

            A grande vantagem dessas chapas é a versatilidade, e poder se conseguir um bom grau de detalhismo, desde que o ferramental e a mão de obra sejam os adequados. Dá para reproduzir até as charmosas cadeiras de madeira curvada, muito em voga até os anos 1940. Com o tempo e a prática, seus movimentos para corte e moldagem estarão quase automatizados, será quase como cortar papelão.

Explosão feita com algodão e muita técnica

            A partir daqui a coisa fica realmente mais cara, demorada e sofisticada, sendo recomendável um curso de artesanato ou profissional, porque qualquer erro pode significar jogar tudo fora e fazer de novo. É o mundo dos profissionais, que chegam ao requinte de produzir seus próprios materiais de trabalho, transformando chumbo em ouro; como pegar uma miniatura barata, trabalhar cada detalhe e extrair dali uma réplica em escala de primeira qualidade. Mas isso é para quem perseverar e, quiçá, decidir fazer disso um negócio, então um estúdio com um laboratório anexo, nos moldes de um bom atelier, pode fazer parte de seus planos. Não que eu queira que vocês trilhem esse caminho, é apenas uma amostra do imenso horizonte inexplorado que os brasileiros têm à frente, mas ao qual não avançam.

            Até mesmo vocês vão sofrer alguns aperfeiçoamentos, seus subconscientes trabalharão e se fixarão em pedaços sólidos tridimensionais de expressão, o que não só fará vocês se reconhecerem bem naquele diorama, como também fará as pessoas próximas e talvez um psicoterapeuta, perceberem uma melhoria de comportamento que poderá ser útil, não só a saúde mental, como também na vida profissional e social. Não só isso, a vida escolar é muito potencializada. Aqueles trabalhos sobre base de isopor que as crianças fazem, podem ser considerados rudimentos de um diorama e, se os adultos soubessem estimular em vez de simplesmente pressionar, o envolvimento de todos os sentidos tornaria o aprendizado não só mais rápido, mas também indelével. Pois é, muitos de vocês são miniaturistas e ainda não se deram conta, talvez porque foram mal apresentados à arte.

Obra de Elgin park

            Como tudo o que fica acima da linha de cintura, a arte da miniaturização é ignorada ou mesmo malvista no Brasil. Lá fora, desculpem o clichê, existem empresas especializadas em suprir o mercado de amantes e profissionais da área, inclusive com a possibilidade de se comprar casas de época, em várias escalas, completas! Com precisão de medidas e riqueza de detalhes de fazer inveja a muitas casas de verdade. Imaginem poder encontrar aqui, casas, carros, trens, trilhos, árvores, animais e figuras de pessoas, tudo pronto para montar sua cidade de época; ou no máximo personalizar peças para que fiquem ao seu gosto. Imaginaram? Vão sonhando, porque pelo menos isso ainda é grátis. Aqui há poucas lojas, em poucas cidades, com comparativamente poucas escolhas a preços relativamente elevados, mesmo para os padrões dos miniaturistas profissionais. Decerto que a nossa baixíssima demanda conspira contra.

Obra de Elgin Park

            Um expoente dos dioramas de época é Elgin Park. Ele costuma fazer ensaios primorosos, que mesmo os olhos mais bem treinados têm dificuldades em identificar como cenários em escala. Ele é um homem insuspeito, em seu aspecto até bucólico, mas domina técnicas altamente sofisticadas, unindo seu vasto cabedal a um talento artístico raro. Um pequeno carrinho a controle remoto, com uma câmera no lado do motorista, faria qualquer um se ver entrando em uma rua dos anos 1950, mesmo aplicando o zoom. A questão aqui é que um miniaturista do naipe de Park, sabe adequar a textura do objecto real às dimensões reduzidas do diorama. É esse o segredo e é essa a dificuldade maior, os materiais usados na vida real não terão sua granulação reduzida só por serem cortados em tamanhos menores, ou utilizados em porções menores. A água, por exemplo, tem viscosidade fixa, de acordo com a pressão atmosférica e a temperatura ambiente, assim um curso d’água em escala nunca terá o comportamento de um natural, o mesmo valendo para o vento. Uma miniaturização de alta ou extrema qualidade, não pode simplesmente utilizar a mesma matéria utilizada no tamanho real, não sem adaptações e até manipulação da fórmula. Daí a necessidade de estudar e praticar, como em tudo na vida, para fazer aquele diorama que bem poderia ser cenário de um filme.


            Algo que um vintagista pode fazer por si mesmo, é estudar o bairro onde seus avós viveram e, quem sabe, conseguir reproduzir a casa de onde seus pais saíram. Advirto que se trata de uma tarefa extenuante, sem prazos plausíveis, e dependendo do caso pode ficar bem caro. Mas a satisfação de uma casa antiga, em que suas lembranças caminhem junto com seus sonhos, com um ou dois bonsais ladeando e um carrinho antigo na garagem, poderá fazer milagres desde o início do planejamento, até o dia em que ficar exposta no local definitivo.

            Existem pelo mundo muitas cidades em miniatura, com precisão de medidas e riqueza de detalhes, que certamente vão inspirar vocês. Algumas têm visitação pública. Os temas são os mais variados, mas sempre inspiradores.


            A minha intenção aqui não é transformar o Brasil em um polo mundial do miniaturismo, ainda mais o de época, apesar de que eu ficaria muito satisfeito com isso. Meu intento é dar aos leitores uma opção sadia e orientações mínimas para ocuparem seu tempo, e de quebra aumentar seu cabedal cultural, porque muitos dos que começam com quartinhos de caixas de sapatos, simplesmente não param mais de se aperfeiçoar. E, no caso de vocês, mais um canal para expressarem e se enxergarem nas suas épocas preferidas. Com o aprimoramento da técnica, o aprimoramento pessoal é virtualmente uma conseqüência.

Ali Alamedy trabalhando

        Então, vintagistas, animados? Que tal um pedaço do mundo do cinema clássico em exposição permanente na sua sala de estar? Com o tempo, quem sabe, uma cidade inteira...

Sobre a obra de Elgin Park, pela lente de Michael Paul Smith, aqui e aqui.

O miniaturista profissional Ali Alamedy.

O miniaturista profissional George O’Keeffe.

O brasileiro Leo de Castro.

Algo sobre outros miniaturistas brasileiros, ainda desbravadores, clicar aqui.

Tutoriais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

A alegria sólida dos ladrilhos hidráulicos


Fonte: Ladrilhos Hidráulicos São Francisco

            Houve época em que a criatividade estava muito em alta. Eu não falo apenas em usar efeitos especiais para dar cara “nova” a algum tema preexistente, como faz o cinema de hoje. Me refiro a originalidade mesmo, de alta qualidade e em abundância, tudo isso oferecido de forma tão generosa, que a cornucópia criativa parecia não ter limites. Houve alguns exageros, como os flamingos cor-de-rosa, mas mesmo eles eram muito bonitos. Tão bonitos que voltaram à moda de onde nunca realmente saíram.




            Tudo começou nos loucos anos 1920 a foi até os neoloucos anos 1970, estes sim, uma década de sanatório geral. Mas o longo apogeu foi dos anos 1940 aos 1960, três décadas de tamanha profusão de proficuidade de engenharia e design, que as pessoas pensaram que nunca acabaria, e assim não se importavam em simplesmente descartar o que fora feito há não mais do que cinco anos antes. Em determinado momento, no início dos anos 1970, começaram a se cansar de tantos estímulos visuais e começaram a focar um minimalismo árido, que em nada lembrava o minimalismo criativo dos anos 1960. A humanidade estava se preparando para viver no espaço, mas acabou descobrindo que vivia no vazio.



            Naquela época pensava-se que ninguém sentiria falta daqueles carros que “beiravam o barroco”, daqueles “vestidos espalhafatosos” e pouco práticos, daqueles “filmes melosos” e daquelas “casas cafonas”. Para começo de conversa, barroco é um plastimóvel descartável e desproporcionado, cheio de vincos desencontrados e com cara de quem está com diarreia; espalhafatoso é um jeans de mil reais, cheio de penduricalhos e com mais rasgos do que a Fome dos cavaleiros do apocalipse; “Meloso” diz quem nunca assistiu a um filme clássico, eram violência e romances tórridos que hoje renderiam censura etária; Cafona é pagar por um cubículo mal acabado de 10m² mais do que antes se pagava por uma casa de 250m² mais o quintal, só para posar de moderno e preocupado com as causas, o que a maioria na verdade NÃO É.


Fonte: Amorim Polimentos


            Pois as pessoas começaram a sentir sim, falta de tudo aquilo que fora desprezado. E eu não falo só de hipsters amargurados e saudosos por épocas em que não viveram, pessoas que viveram tudo aquilo passaram a pesar os prós e contras e, que tristeza, perceberam que eram felizes e não sabiam. Aumentava a tristeza ver tudo o que fez parte de suas vidas ser literalmente destruído por diversão, e esse sentimentalismo só aumentou a dor e o amor pelo antigo. Eles ainda se lembravam de todas as dificuldades e limitações sociais, não floreavam como alguns insistem em dizer sem irem ter com as fontes. Meus amigos, quando eu era criança, não tinham menos de quarenta anos.



            Aqui adiciono meu testemunho às minhas pesquisas. O mundo mergulhava lentamente em uma era de depressão que ainda perdura, apesar das pequenas convulsões de luz e cores dos anos 1980. Os jornais e os artistas, a quem caberia ajudar as pessoas a atravessar uma fase que seria apenas de recolhimento, lucraram e ainda lucram horrores com a desilusão coletiva. Onde a imprensa é livre, ela fez essa besteira, onde não é só havia mensagens de esperança e louvores ao regime. Enfim, essa aridez se refletia também nos productos e serviços, com uma despersonalização coletiva cada vez maior, tudo isso se retroalimentando em um leminiscato depressivo; e todos achando isso normal… quer dizer, nem todos.


Fonte: Patrimônio Belga no Brasil


            Algumas pessoas olhavam para trás e viam épocas com muito menos recursos esbanjando mais vitalidade em cada indivíduo, do que grupos inteiros da época vigente, mas pensavam que eram só loucos solitários, que queriam trocar pisos modernos por ladrilhos hidráulicos decorados dos anos 1930… até que um dia eles descobriram que não eram tão solitários assim. Loucos, talvez, mas não solitários. Descobriram que feiras de antiguidades não eram freqüentadas por bisavós acumuladores em fim de vida e, para esta história não ficar sem fim, a cultura retrô-vintage estourou neste início de século, se apoiando justo na estrutura contemporânea da mídia que ainda nos deprime.


            Os brechós, que começavam a proliferar, não eram mais o suficiente, agora as pessoas queriam suas casas TOTALMENTE no espírito de época. Os eventos de carros antigos mostraram que esses saudosistas que não viveram lá, têm mais poder aquisitivo do que os preconceituosos julgavam ter os clientes de memorabilia, então artigos modernos com estilo retrô voltaram aos catálogos, inclusive eletrodomésticos; claro que cobrando o preço da escala de produção e da qualidade exigida por seu público. Isso incluiu o mercado de cerâmicas, em especial o ladrilho hidráulico.


Fonte: Patrimônio Belga no Brasil


            De início era apenas uma moda, ou um meio de repor peças que não se fabricam mais, já que a produção é essencialmente manual, por isso é caro. Não mais caro, porém, do que os pisos de pedra que substituiu nos anos 1850, quando a técnica de pisos de cimento começou a se disseminar. Apesar de não ser barato, pode ser reproduzido, ao contrário das pedras e, mais do que isso, pode receber estampas que duram décadas, até séculos; vai ver a durabilidade de um porcelanato com a carga de uso que os ladrilhos instalados no pré-guerra suportam até hoje, vai.



            Após a Grande Depressão, que se alastrou até a segunda guerra, o surto de criatividade e esperança de que falei fez proliferar os ladrilhos com temática geométrica, que ainda hoje são tão modernos quanto elegantes, e estão em grande quantidade nos prédios históricos de Brasília, usados principalmente como revestimento de paredes. A quem tiver a chance de visitar a capital do país, asseguro que será uma grata surpresa a cada metro visitado, do tipo que revela mais detalhes e riquezas quanto mais perto se chegar. É um desbunde ver aquela arquitetura pós-moderna usufruindo do aconchego e do charme familiar que os azulejos e ladrilhos decorados oferecem. Mesmo nos tons mais sóbrios há uma explosão de vida e esperança que encanta principalmente as crianças.


Fonte: Carocim


            Não faz muito tempo que os bares e cafés mais reservados e personalizados, começaram a usar mosaicos de ladrilhos (às vezes imitações ou meros papéis de parede, pois são caros) na decoração principal, especialmente atrás dos balcões de atendimento e ao lado das mesas internas. Aqui geralmente em tons terrosos, dando um ambiente mais bucólico e rústico, que ajuda a acalmar e manter o cliente mais tempo no estabelecimento, sem o uso de estimulantes de baixo-ventre e sem anular a noção de tempo.



            No decorrer desse revival, marcas que estavam restritas a nichos se encorajaram a ousar, e o que eram apenas lojas de demolição, se tornaram fornecedores de mercadoria original de época… e os centavos que pagavam por um pacote, não levavam mais nem uma lasca de uma peça. Aliás, peças lascadas ou rachadas, antes destinadas ao descarte, agora são usadas para dar um aspecto mais autêntico, como se estivessem naquele piso ou parede há décadas, cheias de histórias para contar.


Fonte: Carocim


            E aqui vem a principal causa do saudosismo, não me refiro só à robustez e aptidão às cargas mais pesadas de trabalho. O ladrilho hidráulico, como a cerâmica autêntica e as pastilhas, dá vida ao piso. Algo que aquele vazio quadriculado, fácil de arranhar e quebrar, não oferece. São donairosos motivos que podem tanto formar amplos e elegantes padrões repetitivos a perder de vista, quanto lúdicas colchas de retalhos de cimento, que arrancam sorrisos dos mais sisudos, ou melo menos um traço a menos de amargura nos cabisbaixos. Um piso vazio, cercado de paredes vazias, com uma decoração vazia, é uma armadilha letal para depressivos. Um pouco de cores e formas não faz mal nem ao mais tradicional dos cavalheiros ingleses.



            Não é de se admirar que esse mercado emergente e sólido chame a atenção de mais gente, a ponto de já haver quem faça projectos personalizados para quem se dispuser a pagar. Ladrilhos temáticos não são mais novidades, especialmente os alusivos à times de futebol, já há quem os ofereça como productos de linha da empresa. O que me faz lembrar, algumas calçadas em Goiânia ainda têm ladrilhos hidráulicos com estampas das empresas que ocupavam as áreas correspondentes… durabilidade pouca é bobagem. Durabilidade e versatilidade, já que toda essa resistência real os torna aptos a constituir desde artesanatos, até pisos de garagens de caminhões.


Fonte: Casa de Valentina


            Abdicando da facilidade estéril e depressiva, que só deveria estar presente em ambientes sanitários, e olhe lá, quem opta pelos clássicos atemporais da decoração de ladrilhos dá motivos para as pessoas permanecerem em casa, simplesmente porque as faz se sentirem melhor no ambiente. Há aconchego, compreendem? São coisas que uma vez instaladas as peças, os moradores obtêm de graça, pelo resto de suas vidas, angariando a simpatia dos mais jovens, que se queixam e argumentam justo a monotonia familiar para não permanecerem. As crianças, é claro, têm à disposição um brinquedo forte e durável à sua disposição. É um dos maiores bônus das coias antigas, elas geram empatia, formam e fortalecem as ligações que são muito úteis em épocas de crise, como a adolescência… Eu sei, meus amigos, é fogo, dá vontade de arrancar os cabelos, mas é uma fase, em dois ou três anos isso passa.



            O ônus do cimento, que às vezes se mancha com relativa facilidade e não é tão fácil de limpar, é compensado pela durabilidade e praticidade de substituição, bem como pela facilidade moderna de ser impermeabilizado. A espessura, por ser de produção artesanal, também não é tão uniforme, necessitando de ajustes no assentamento para manter o piso nivelado, mas aqui terminam as desvantagens. Quem já precisou trocar um piso moderno, sabe dos impropérios que a vizinhança indignada e ávida por silêncio, é capaz de proferir. Mesmo com os contras, vocês AINDA podem ver em muitas cidades, esses ladrilhos instalados em calçadas públicas, resistindo aos transeuntes e até mesmo a veículos pesados por décadas a fio. Mesmo sendo um material poroso, que em princípio absorve mais sujeira, ainda exibem cores vivas e encantadoras, se destacando do resto da paisagem, dominada por esterilidade espelhada e porcelanato (este sim) cafona impróprio para pisos externos.


Fonte: Archduo


            Aqui vocês já devem ter percebido o tipo de gente que aprecia esse material, é aquela que gosta de cultivar relações e não joga pessoas fora, por não terem satisfeito suas expectativas; em suma, é para quem quer amadurecer e arcar com a maturidade. Coisas antigas ajudam a aprender isso, de uma forma mais bonita e agradável do que a vida ensina. Gente que percebe que as dificuldades do cotidiano, para quem amadurece, só têm a acrescentar. Mas a recompensa vem. Apesar do peso e da rusticidade que os ladrilhos têm individualmente, em conjunto eles têm a leveza que a brutalidade dos anos não leva. Assim como nem a destruição em massa extinguiu aqueles carrões maravilhosos da era de ouro… e eles começam a despertar interesse novamente.

Fonte: Viva Decora


            Ficarei devendo a vocês um artigo sobre as charmosas e carismáticas pastilhas, que ainda figuram em fachadas e podem ser usadas até como bijuterias. Está na fila, mas asseguro que escreverei a respeito. Para mais, separei alguns links úteis a respeito.

Empresas: Carocim (França), Cemitério dos Azulejos, Museu dos Azulejos, Refinare, Casa de Valentina, In-Ex, Ladrilart, Ladrilar, Viva Decora, Patrimônio Belga e Pisos Antigos.

Artigos : Tua casa, Conexão Decor, Elegância das Coisas, Fundação Athos, Brasília Concreta, Gazeta do Povo e Homif.

Vídeos: Instalação, Como se fabrica.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Santa Catarina Custom Show 2019


    Tem festa nestes sábado e domingo! O sul do Brasil reassume sua locomotiva a vapor e puxa os vagões da cultura retrô/vintage do país. Mesmo o gigantismo de São Paulo não consegue competir com Paraná e Santa Catarina.

    O Centro de Eventos de Itajaí sedia um dos maiores festivais do gênero na América do Sul, com tudo a que tem direito seu exigente público, incluindo o concurso de Miss Pin-Up. Neste ano Goiás conta com as graças de duas charmosas e elegantes participantes, Mrs Dany Ervilha e Babi Violet, membros do Pin-Up Girls Gyn da Grande Goiânia. Conheça-as aqui.

    Aliás, eu já falei delas aqui. Posso dizer que evoluíram muito, cresceram muito e já temos uma, praticamente, confederação pin-up em Goiás. Paciência e solicitude dão recheio ao seu charme. Elas fazem um trabalho muito bonito com as (verdadeiramente) plus size, alimentando sua auto estima e seu amor próprio com a cultura retrô.

    Não basta vestir uma roupa de época para ser pin-up, precisa ter conteúdo.

    Além do concurso de pin-ups, haverá workshops temáticos, exposição de carros antigos originais e customizados, atrações musicais nacionais e dos Estados Unidos, entre outros, além de gente bacana que cuida da própria vida. É, apesar da festa e da descontração, um evento para toda a família. Ainda há tempo de retardatários aparecerem, as bilheterias abrem às dez horas da manhã.

   
Charmosas, cultas e solícitas; estamos bem representados.

Telephones do evento: (47)99918-54110 | 98480-8712 | 98445-6955

Ver mais aqui, aqui e aqui.

sábado, 25 de maio de 2019

Cápsulas do tempo - I

Chateau Banana, abandoned placce.


    O termo não é novidade. Muita gente ainda hoje pega recortes de jornais e revistas, objectos ainda lacrados, cartas, documentos e photos, lacra em um pequeno baú e enterra ou guarda onde ficará por muitos anos, não raro por décadas. Então os autores ou descendentes vão ao local e testemunham o que foi um pouco da época em que o recipiente foi recheado, quase sempre se admirando e até rindo do que lêem e vêem com circunflexo. Experimente ver um arquivo completo dos anos 1990, tua reação não seria muito diferente.

Boliche abandonado, 1960s


    Varia muito o conteúdo. Pode ser só uma coletânea de recortes ou cartas, mas pode ser uma pequena fortuna em obras e artigos de época, em ambos os casos o valor inflaciona com o tempo, a escassez e a demanda. Mas há um tipo de cápsula do tempo que nem sempre é deliberada, ás vezes é até traumática... Nem sempre, pois há quem preserve porque gosta e quer que tudo fique basicamente como estava quando tudo foi comprado, mas muitas cápsulas do tempo são casas abandonadas que, dependendo do clima e do grau de delinqüência da região, se degradam por falta de manutenção.

    No Brasil, como em todo país de burocracia insana, há o agravante do inventário que nem sempre é feito a tempo, o titular falece e absolutamente nada pode ser feito de relevante, e os herdeiros nem sempre se interessam em preservar e usufruir do que já há, sempre querem vender rapidamente e ninguém entra em acordo com ninguém, e tudo é posto a perder. Sim, a mentalidade brasileira no tocante ao pecúlio gera também esse prejuízo, e sou testemunha disso.

Nem todas as cápsulas são abandonadas. 1960s

    Entretanto, em regiões de clima menos severo e delinqüência baixa, se comparada à nossa, é comum casas e estabelecimentos serem fechados e permanecerem preservados por décadas a fio, com pouco ou nenhum dano.

    Nesses lugares é possível ver e até sentir perfeitamente como viviam as pessoas naquela época e, em particular, naquele lugar. Conhecendo um pouco (um pouquinho só) de história e psicologia, é possível até mesmo sentir os dramas e lutos da família que ocupava aquela casa, ou da equipe e clientes daquele estabelecimento, especialmente quando há photos; e geralmente há algumas em boas condições.

Alguns desses lugares guardam tesouros inacreditáveis. 1940s

    Nem sempre as razões do abandono ficam claras, há casos em que os moradores simplesmente se vão e nunca mais dão notícias, deixando para trás uma casa repleta de fantasmas do que um dia foi, ou deveria ter sido uma família feliz. Para a vizinhança é um transtorno, porque uma casa abandonada desvaloriza todas ao seu redor, mais do que um lote baldio.

    Em qualquer situação, mesmo em países de pouca burocracia, é difícil decidir o que fazer com uma casa assim. Com um estabelecimento comercial nem tanto, a carga tributária é mais pesada e isso força o município a tomar decisões mais prontamente, mas uma casa tem todo o peso da pessoalidade e das ambições de possíveis herdeiros.

Uma capsula habitada e bem conservada. 1960s

    Com o advento da internet moderna, ou seja, pós 1995, a facilidade em enviar e hospedar arquivos complexos facilitou a vida de quem procura por cápsulas do tempo. E é mais gente do que vocês imaginam. Há inclusive corretores que se especializaram nisso, nos Estados Unidos, simplesmente porque muita gente QUER viver em uma autêntica casa ou ter um autêntico comércio dos anos dourados.

    O grande problema são os aventureiros que simplesmente invadem e às vezes depredam esses lugares, e ainda exibem seus feitos em vídeos para o mundo todo. Mesmo os que só querem registrar o ambiente são motivos para preocupação, porque um lugar desses nem sempre recebe manutenção, e os problemas de quando foi fechado nem sempre estão sanados, os riscos de ferimentos graves e até óbitos são grandes. Não bastasse isso, os proprietários ou herdeiros podem ser responsabilizados pela irresponsabilidade alheia.

Boliche 1960s

    Há também um misto de má vontade e descrença de proprietários que não vendem e não conservam. Já vi seis DKW virarem pó assim, foi de cortar o coração. Em parte porque há pessoas que realmente não gostam de suas famílias e querem que se lasque tudo o que lhe disser respeito; em parte porque há muita gente rançosa que se apega a ponto de isolar, não cuidar, não deixar ninguém ver e não vender; em parte porque ninguém é obrigado a abrir suas portas a desconhecidos com argumentações estranhas, especialmente se a pessoa for judicialmente responsável pelo patrimônio em questão. Se faltar um pires de seja, as coisas ficam ruins para o cidadão, porque talvez não só não haja mais para repor, como um processo por responsabilidade pode se arrastar por anos e comprometer sua vida inteira.

Boliche 1960s

    Nem sempre é assim. Muitas vezes o fechamento do imóvel tem razões extremamente traumáticas para uma família, que pode fazer chorar ou ranger dentes à simples menção do caso. Uma casa ou um estabelecimento em que tenha ocorrido um crime violento ou uma tragédia de consequências irreversíveis, pode ser simplesmente lacrado porque foi a escolha menos ruim, a forma menos dolorosa de uma família lidar com aquilo.

    Mas há pessoas de boa vontade que, tendo tempo, se dispõe a ciceronear entusiastas por um pedaço da história, que é também o mundo de uma família que pode nem mesmo existir mais. Para muitos é uma alegria que alguém mais se interesse sinceramente por suas memórias, ainda mais com a promessa de divulgação pela internet; mas não se animem muito, não contem com isso. Apenas peçam e, na recusa, sejam suficientemente humanos para compreender que cada um tem suas razões, e elas podem ser muito espinhosas. Um trauma extremo pode contaminar as duas gerações seguintes ao evento.

Uma cápsula do tempo em perfeitas condições. 1940s

    Com o advento da internet moderna, ou seja, após 1995, ficou muito fácil e barato hospedar arquivos de grande porte. Se antigamente era um custo encontrar uma photo com mais de 100kb, hoje é fácil publicar e baixar vídeos de uma hora ou mais em alta resolução. Com isso os feitos estúpidos vieram à tona, mas os responsáveis e os corretores de cápsulas do tempo também se beneficiaram, para o deleite dos vintagistas de plantão.

O sonho dourado dos corretores de cápsulas do tempo. 1940s

    Toda a beleza e, por vezes, bucolismo dos anos 1940 até 1960 estão à disposição em imagens e vídeos de quem digitar "Abandoned home" e "Time capsule" no buscador. Para uma pessoa comum já seria algo muito interessante, para nós é um deleite sem preço.

    A maioria dessas cápsulas, principalmente as preservadas, está no hemisfério norte, em particular nos Estados Unidos e Canadá, que foi onde a cultura moderna nasceu e também seus admiradores modernos. Uma boa casa assim, em perfeitas condições, passa fácil de US$ 450,000. Se a casa tiver uma história relevante para a região ou a assinatura de um cultuado mestre do design, facilmente passa de um milhão.

Cápsula do tempo em Toronto. 1950s

    Não que qualquer casinha construída nos anos 1970 vai valer uma fortuna, não é tão simples. Em primeiro lugar, não é qualquer um que gosta disso, então a venda pode demorar, o que fatalmente baixa o preço. Em segundo lugar, é preciso saber anunciar e os corretores especializados não são muitos, no Brasil nem sei se existe algum. Em terceiro e mais importante, é preciso que tudo esteja em perfeitas condições de preservação, com mobília e utensílios de época aptos ao uso; isso é extremamente difícil em nosso país. Nossa memória é demasiadamente curta e seletiva! Quase ninguém preserva um liquidificador dos anos 1970! Muito menos um televisor preto e branco!

Apartamento em Chicago. 1950-60s

    Imaginem então encontrar uma casa dos anos dourados em boas condições, com mobília e utensílios de época! É desanimador pensar nisso. Muito desanimador, mas não a ponto de desistir, porque pelo menos nos grandes centros e nas cidades que têm tradições fortes, ainda é possível encontrar essas preciosidades, que podem ter até os carros da época na garagem. Mas enquanto o sonho da cápsula própria não chega, vamos nos deleitar com o trabalho de arqueologia de meio de século já feito. É muito mais material do que vocês podem imaginar, a ponto de poderem usar seus critérios para decidir sem culpas qual vale sua atenção; como decidir ver só cápsulas dos anos 1940, por exemplo. Vai se surpreender ao ver que algumas são habitadas.

    É um assunto rico que não se esgota com um só texto, então voltarei a abordar. Enquanto isso, aproveitem as facilidades úteis da internet e descubram o velho mundo que é mais moderno do que o novo. Vão lá!