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Obra de George O'Keeffe |
É bem
difícil encontrar uma pessoa que não se encante com uma bela maquete, uma
miniatura bem-feita, ou um diorama com grande riqueza de detalhes. Eu conheço
gente assim, por isso posso dizer que é uma minoria indigna de qualquer
estatística séria. No máximo traço de gráfico. Principalmente para quem não tem
disponibilidade de espaço, seja em casa, seja em um espaço alugado ou cedido,
uma coleção de miniaturas de boa qualidade enriquece muito qualquer ambiente,
ainda mais quando se trata de um vintagista, que geralmente tem bom gosto acima
da média. Há quem compre maquetes de lançamentos imobiliários, quando a obra
fica pronta e as unidades já foram vendidas… uma maquete de trinta andares cabe
na sala e, ao contrário do edifício, pode ser admirada em todos os ângulos e
decorada ao gosto do dono, para efemérides, sem precisar da autorização do
condomínio.
Mesmo
aqueles que podem ter os objectos originais, às vezes principalmente essas
pessoas, têm um brilho quase pueril no olhar, ante a possibilidade de ter uma versão
menor, que possa ser apreciada de modo que as dimensões do original não
permitem. No caso de um carro, admirar a parte de baixo sem precisar de um
elevador de oficina, e sem o risco de um acidente fatal, é uma terapia para
conhecedores. Isso além do facto de que alguns carros são tão raros e
disputados, que é mais fácil conseguir as fortunas que eles custam, do que
alguém disposto a vender o seu. Já soube de um divórcio, nos anos 1980, por
conta de um Duesemberg… a miniatura mais avantajada, cara e ricamente
detalhada, não teria causado isso.
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Elgin Park e uma de suas obras |
Vamos ao
básico. As diferenças fronteiriças entre miniatura, maquete e diorama não são
rígidas e digitais, na verdade são muito analógicas e às vezes a linha que os
divide é larga e difusa, como as próprias fases das décadas passadas.
Miniatura é
justamente o que o nome diz, uma versão menor do que o objecto representado. É
como um genérico de maquete e diorama. Se fosse do mesmo tamanho, seria
réplica, que é outra coisa e outro assunto para um texto futuro. A miniatura
pode ser um simples brinquedo mais sofisticado, com boa dose de detalhismo para
alegrar uma criança, mas também pode ser uma réplica em escala; um modo chique
para denominar versões menores que são tão ricas em detalhes e em que as partes
funcionam de modo tão fiel ao original, que uma boa sessão photográphica
enganaria até mesmo experts, fazendo-os pensar que se trata de um original.
Maquete é
uma representação em tamanho menor de uma obra de grandes dimensões, mais
utilizada na indústria da construção para que os potenciais clientes tenham uma
idéia precisa do que pretendem comprar… ok, sabemos que muitas vezes existe uma
distância astronômica entre o que é apresentado, e o que é realmente entregue,
mas isso é um problema para o Procon, a polícia e o senso de direito e união de
consumidores, que o brasileiro não tem. Enfim, a maquete é a miniatura levada ao
profissionalismo, mas por isso mesmo se tornando algo mais, pela necessidade de
dados e história e/ou prognósticos de que uma mera miniatura prescinde. E um
prognóstico nada mais é do que uma especulação, por mais embasamento que tenha,
da história futura. E história é justo o que conta uma réplica em escala de um
P-47 Thunderbolt, por exemplo.
Diorama… não,
não me refiro a um evento da Dior e nem à pequena cidade do interior de Goiás.
Diorama é quando a maquete é contextualizada no espaço-tempo. Por exemplo, uma
réplica em escala de uma parede em ruínas com um piso de época e um soldado
morto, se tiver bom grau de realismo, é um diorama de guerra, ainda que seja
guerra urbana. E é aqui que o diorama se põe no topo da hierarquia dos três,
existe a necessidade de realismo, o que quase sempre o torna mais caro e
difícil de produzir do que uma simples (?) maquete. Um bom diorama pode levar
anos para ficar pronto, mesmo ocupando o espaço de uma pesa pequena.
A rigor, o primeiro diorama de verdade é o bonsai, ou pelo
menos o seu precursor. Surgido na China do século VIII, caiu rapidamente no
gosto dos japoneses, com suas sérias restrições de espaço, em especial dos
monges, estes então podiam ter uma boa lembrança de um lugar sem precisar se
apegar a ele, e sem possuir mais do que é capaz de carregar. Por volta do
século XVIII o bonsai atingiu o estado de arte de que desfruta hoje, com técnicas
tão refinadas que mesmo as menores versões podem ser capazes de gerar flores e
frutos, reagindo às estações do ano como qualquer árvore normal. Isso, em um
cenário em escala, é o suprassumo do realismo.
É aqui que
as cosias complicam para as pessoas comuns. Bonsais não são baratos e nem muito
simples de se manter. Eles precisam de cuidados a mais do que uma simples
planta pequena, o que inclui uma poda periódica das raízes, ou a planta vai
crescer mais do que o desejado e, tristeza, deixar de ser um bonsai; o
crescimento é irreversível. Assim como há pouca gente fazendo bonsais no
Brasil, também há poucas aptas a prestar os devidos cuidados, o que dificulta e
encarece sua manutenção.
Embora as
partes não vivas de um diorama não cheguem a esse nível de drama, a qualidade
do cenário tem preço proporcional, não só em dinheiro, mas também em
procedimentos e tempo empregados, tanto na produção quanto na instalação, se
for o caso, e na manutenção. Para a alegria dos adeptos desse hobby, que é algo
um pouco além de um mero passatempo, por seu caráter de perenidade, a indústria
dos cenários em escala produz muita coisa nas escalas oficiais, o que poupa
tempo e dinheiro… mas não muito. Figuras de pessoas e animais, plantas, trilhos
ferroviários, mobília, cercas, fachadas, veículos, acessórios e uma infinidade
de coisinhas que talvez ninguém saiba quantas realmente sejam.
Essa é a boa
notícia.
A má notícia
é que é QUASE TUDO importado… e muitas vezes a importação é independente, ou
seja, por conta e risco do consumidor final. A feitura do diorama é quase como
o restauro de um carro antigo, dificilmente o prazo e o orçamento serão aqueles
previstos, sempre aparece um problema. Murphy não descansa. É aqui que entram a
arte e o talento da improvisação, tão desenvolvidos no brasileiro… e não, a
casa da Barbie não é um diorama. A própria boneca não é realista o suficiente
para isso, o que não significa que seus caros acessórios não permitam fazer um
belo cenário de época, podem e os fãs mais bem remunerados montam alguns de
rara beleza, mas tudo ainda fica com cara de brinquedo. Se é para te fazer
feliz, vale sim.
Para o nosso
caso, que seria um diorama de época, bastam um pouco que pesquisa séria com
imagens, alguns vídeos temáticos e, se for o caso, consulta a pessoas que se dedicam a estudar o
assunto; o YouTube está bem servido delas, não é muito difícil. O mais simples
é fazer um cômodo aberto com duas ou três paredes e os móveis. Um quarto, por
exemplo, pode ser feito sobrepondo e colando duas caixas de sapatos, que podem ser decoradas com imagens baixadas da internet, devidamente redimensionadas,
incluindo papel de parede e piso. Um pouco de habilidades manuais é necessário,
porque será preciso recortar, modela e até pintar, por menores que sejam as
intervenções. Palitos de espetinho podem tanto reforçar as paredes, quanto
formar a estrutura da mobília, com palitos de dentes formando as partes mais
delicadas. Retalhos de tecidos, vendidos por uma ninharia, serviriam para a
roupa de cama, tapetes e as cortinas, com arremates feitos com cola. Tudo isso
pode ser feito em um dia ou dois de trabalho dedicado, com, pelo menos, mais um
para tudo ficar curado e consistente para ser levado consigo.
Claro que
isso é uma orientação genérica e já considerando que vocês já têm alguma
habilidade manual; aqui não dá para se partir do zero absoluto. A receitinha
básica e genérica que dei pode ter resultados surpreendentes, para quem tiver
paciência e perseverança, se precedidas de uma boa pesquisa de época, algo
fácil com a internet; principalmente para quem já tem em mente o que quer.
Vocês são no mínimo entusiastas do modo de vida de outras épocas, então vocês
têm sim ao menos noção do que querem, alguns até sabem com precisão o que
desejam, isso facilita muito mais do que vocês imaginam; poupa muito dinheiro,
muito tempo, muitos aborrecimentos e até acidentes de trabalho.
O passo
seguinte é usar chapas de mdf para fazer tudo, mas então a tesoura de costura e
a faquinha de mesa não servem mais, é necessário ter ferramental apropriado,
embora nada de sofisticado. Algumas lojas fazem corte e modelação a pedido do
cliente, não todas, e nem todas o fazem sem custo adicional, mas é uma opção
para quem não quer ou não tem condições de fazer a parte pesada do serviço.
Felizmente uma chapa mais fina serve bem para nossos propósitos, por menos de
R$15,00 dá para comprar uma boa placa crua de 50X50cm, o que é bem grande para
um diorama de mesa. Infelizmente as ferramentas adequadas não são tão baratas,
porque é um material relativamente resistente e duro, por isso é uma boa idéia
terceirizar o corte, porque um erro pode por tudo a perder.
A grande vantagem dessas chapas é a versatilidade, e poder se conseguir
um bom grau de detalhismo, desde que o ferramental e a mão de obra sejam os
adequados. Dá para reproduzir até as charmosas cadeiras de madeira curvada, muito em voga até os anos 1940. Com o tempo e a prática, seus movimentos para corte e moldagem estarão quase automatizados, será quase como cortar papelão.
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Explosão feita com algodão e muita técnica |
A partir
daqui a coisa fica realmente mais cara, demorada e sofisticada, sendo
recomendável um curso de artesanato ou profissional, porque qualquer erro pode
significar jogar tudo fora e fazer de novo. É o mundo dos profissionais, que
chegam ao requinte de produzir seus próprios materiais de trabalho,
transformando chumbo em ouro; como pegar uma miniatura barata, trabalhar cada
detalhe e extrair dali uma réplica em escala de primeira qualidade. Mas isso é
para quem perseverar e, quiçá, decidir fazer disso um negócio, então um estúdio
com um laboratório anexo, nos moldes de um bom atelier, pode fazer parte de
seus planos. Não que eu queira que vocês trilhem esse caminho, é apenas uma
amostra do imenso horizonte inexplorado que os brasileiros têm à frente, mas ao
qual não avançam.
Até mesmo
vocês vão sofrer alguns aperfeiçoamentos, seus subconscientes trabalharão e se
fixarão em pedaços sólidos tridimensionais de expressão, o que não só fará
vocês se reconhecerem bem naquele diorama, como também fará as pessoas próximas
e talvez um psicoterapeuta, perceberem uma melhoria de comportamento que poderá
ser útil, não só a saúde mental, como também na vida profissional e social. Não só isso, a vida escolar é muito potencializada. Aqueles
trabalhos sobre base de isopor que as crianças fazem, podem ser considerados
rudimentos de um diorama e, se os adultos soubessem estimular em vez de
simplesmente pressionar, o envolvimento de todos os sentidos tornaria o aprendizado
não só mais rápido, mas também indelével. Pois é, muitos de vocês são
miniaturistas e ainda não se deram conta, talvez porque foram mal apresentados
à arte.
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Obra de Elgin park |
Como tudo o
que fica acima da linha de cintura, a arte da miniaturização é ignorada ou
mesmo malvista no Brasil. Lá fora, desculpem o clichê, existem empresas
especializadas em suprir o mercado de amantes e profissionais da área,
inclusive com a possibilidade de se comprar casas de época, em várias escalas,
completas! Com precisão de medidas e riqueza de detalhes de fazer inveja a
muitas casas de verdade. Imaginem poder encontrar aqui, casas, carros, trens,
trilhos, árvores, animais e figuras de pessoas, tudo pronto para montar sua
cidade de época; ou no máximo personalizar peças para que fiquem ao seu gosto.
Imaginaram? Vão sonhando, porque pelo menos isso ainda é grátis. Aqui há poucas
lojas, em poucas cidades, com comparativamente poucas escolhas a preços
relativamente elevados, mesmo para os padrões dos miniaturistas profissionais.
Decerto que a nossa baixíssima demanda conspira contra.
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Obra de Elgin Park |
Um expoente
dos dioramas de época é Elgin Park. Ele costuma fazer ensaios primorosos, que mesmo os
olhos mais bem treinados têm dificuldades em identificar como cenários em
escala. Ele é um homem insuspeito, em seu aspecto até bucólico, mas domina
técnicas altamente sofisticadas, unindo seu vasto cabedal a um talento
artístico raro. Um pequeno carrinho a controle remoto, com uma câmera no lado
do motorista, faria qualquer um se ver entrando em uma rua dos anos 1950, mesmo
aplicando o zoom. A questão aqui é que um miniaturista do naipe de Park, sabe
adequar a textura do objecto real às dimensões reduzidas do diorama. É esse o
segredo e é essa a dificuldade maior, os materiais usados na vida real não
terão sua granulação reduzida só por serem cortados em tamanhos menores, ou
utilizados em porções menores. A água, por exemplo, tem viscosidade fixa, de
acordo com a pressão atmosférica e a temperatura ambiente, assim um curso
d’água em escala nunca terá o comportamento de um natural, o mesmo valendo para
o vento. Uma miniaturização de alta ou extrema qualidade, não pode simplesmente
utilizar a mesma matéria utilizada no tamanho real, não
sem adaptações e até manipulação da fórmula. Daí a necessidade de estudar e
praticar, como em tudo na vida, para fazer aquele diorama que bem poderia ser
cenário de um filme.
Algo que um
vintagista pode fazer por si mesmo, é estudar o bairro onde seus avós viveram
e, quem sabe, conseguir reproduzir a casa de onde seus pais saíram. Advirto que
se trata de uma tarefa extenuante, sem prazos plausíveis, e dependendo do caso
pode ficar bem caro. Mas a satisfação de uma casa antiga, em que suas
lembranças caminhem junto com seus sonhos, com um ou dois bonsais ladeando e um
carrinho antigo na garagem, poderá fazer milagres desde o início do
planejamento, até o dia em que ficar exposta no local definitivo.
Existem pelo
mundo muitas cidades em miniatura, com precisão de medidas e riqueza de
detalhes, que certamente vão inspirar vocês. Algumas têm visitação pública. Os
temas são os mais variados, mas sempre inspiradores.
A minha
intenção aqui não é transformar o Brasil em um polo mundial do miniaturismo,
ainda mais o de época, apesar de que eu ficaria muito satisfeito com isso. Meu
intento é dar aos leitores uma opção sadia e orientações mínimas para ocuparem
seu tempo, e de quebra aumentar seu cabedal cultural, porque muitos dos que
começam com quartinhos de caixas de sapatos, simplesmente não param mais de se
aperfeiçoar. E, no caso de vocês, mais um canal para expressarem e se enxergarem
nas suas épocas preferidas. Com o aprimoramento da técnica, o aprimoramento
pessoal é virtualmente uma conseqüência.
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Ali Alamedy trabalhando |
Então, vintagistas, animados? Que tal um pedaço do mundo do cinema clássico em exposição permanente na sua sala de estar? Com o tempo, quem sabe, uma cidade inteira...
Sobre a obra de Elgin Park, pela lente
de Michael Paul Smith,
aqui e
aqui.
O miniaturista profissional
Ali Alamedy.
O miniaturista profissional
George O’Keeffe.
O brasileiro Leo de Castro.
Algo sobre outros miniaturistas brasileiros, ainda
desbravadores, clicar
aqui.
Tutoriais
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