quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Cobogó



 
Fonte: http://casaeconstrucao.org/materiais/cobogo/

Imaginem uma parede com furos estilizados, que formariam padrões abstratos, geométricos e silvestres, não só dando um ar mai sofisticado ao ambiente, mas também permitindo a difícil equação entre boa ventilação e controle da incidência de luz. Se isso lhes parece ser uma inovação recente de algum hipongo ambientalista utópico moderno do século XXI, enganou-se. Enganou-se por quase cem anos, para ser preciso.
 
Fonte: http://casaeconstrucao.org/materiais/cobogo/

Nos loucos anos 1920, moradores de recife criaram os elementos vazados, que levou como nome as iniciais dos nomes de cada um deles. Foram eles o comerciante português Amadeu Oliveira Coimbra, o alemão Ernesto August Boeckmann e o brasileiro Antônio de is, que deram à solidez do tijolo a leveza que inspirou arquitetos até fins dos anos 1960. A inspiração veio do muxarabi (Mashrabiya) das sacadas de países árabes, que permitiam aos moradors verem o movimento sem serem vistos, pensado para as mulheres não serem vistas pelos transeuntes. Lúcio Costa se encarregou de difundir a idéia. A patente é de 1929. Brasília é particularmente rica em cobogós, por causa das arquiteturas modernistas, mas nem todas oscarianas.



Inicialmente apenas tijolos vazados, os cobogós ganharam outros materiais em sua formação, os mais caros e refinados são de cerâmica vitrificava, com motivos altamente sofisticados, usados principalmente para separação de ambientes internos. Com a variedade de materiais possíveis e a quase infinita possibilidade de arquitetura interna do elemento, um cobogó pode ser utilizado virtualmente em qualquer situação e não só como parede vazada, mas também como balcão de cozinha ou bar, mureta de deck de piscina, sacadas, suportes de banco de praças e jardins, enfim, é uma das idéias antigas mais úteis e versáteis de todos os tempos. Estruturais ou decorativos, eles deveriam ser padrão na construção civil nacional.

Uma utilidade é permitir que uma pessoa veja quem está lá fora sem ser vista, por conta do eficaz controle de iluminação. Eu estudei em escolas que tinham seus corredores abertos, mas em frente às portas das salas de aula havia paredes de cobogós de cerâmica rústica, como as dos tijolos furados. A ventilação era muito boa e o sol da tarde não incomodava. Vocês que moram em regiões bem ventiladas, não imaginam o quanto isso é precioso em um Estado de clima abafado e quente como Goiás.



A vantagem visual do cobogó é dar a impressão de que o prédio não foi construído, mas cresceu e continua crescendo no lote, por conta da aparência orgânica que os veios visuais de seus desenhos oferece. O prédio parece estar vivo, compreendem? Algo como se a pessoa entrasse em um filme de ficção científica dos anos 1950. Claro que lavar aquilo dá trabalho, especialmente em regiões como a minha, onde a poeira do agronegócio e a fuligem urbana se misturam, mas não é um bicho de sete cabeças.

O único risco é as crianças começarem a escalar os elementos, e elas vão fazê-lo ao menor descuido dos pais. Então já sabem que a beleza vintage desses elementos arquitetônicos tem suas armadilhas. Mas se não for os cobogós, será a mesa, o armário da cozinha, uma árvore especialmente atraente. Quem tiver gatos vai levar alguns sustos, mas nada a que não se possa adaptar rapidamente.
 
Fonte: www.projeteja.com
Uma forma barata de fazer cobogós é assentar tijolos comuns com vãos entre si, pelo menos 2/3 do tamanho de cada tijolo, colocando os da fileira superior sobre esses vãos e assim sucessivamente. Parece óbvio demais? Experimente e surpreenda-se. Além do mais, cobogós não precisam ter cara de tijolo! Para isso servem as boas tintas e vernizes de alto brilho disponíveis no mercado. Um bom profissional de pintura consegue fazer até um enorme elemento de cimento parecer cerâmico.
Ainda não entendi como os fabricantes de bloquinhos de plástico ainda não se deram conta do quanto cobogós de encaixar seriam atraentes para as crianças! Seriam como legos estilosos, que obviamente teriam seu preço, devido à complexidade da produção, mas os petizes iriam amar!
 
Fonte: blogdatete.com

Apesar do preconceito que vitima essa criação legitimamente brasileira, por conta de outro preconceito que se tem contra moradores de subúrbio, que utilizavam em larga escala os cobogós mais baratos em suas fachadas, a indústria de elementos vazados conseguiu prosperar e hoje tem uma vasta e diversificada oferta de productos. Alguns chegam a aprecer porcelana, tamanho o refinamento de formas e vitrificação. As cores ainda são aquelas típicas dos anos dourados, oscilando entre tons pastéis e as cores vibrantes.

O mais absurdo desse preconceito é o facto de que elementos vazados, tanto mais quanto mais belos e elaborados, reduzem problemas e transtornos psicológicos como a ansiedade, a depressão e algumas fobias, como a de lugares fechados. Eles eliminam de cara a sensação de sufocamento. Quer mais? As crianças, novamente elas, têm sua curiosidade atiçada e brincam por mais tempo dentro de casa, às vistas dos pais. Mais? Experimente ver uma decoração natalina através de cobogós decorativos. Para quem ama o art déco, como eu, os cobogós acentuam bastante suas características estéticas, técnicas e históricas.
E é claro, meus leitores mais ecológicos já devem ter vislumbrado a possibilidade de jardins e hortas verticais, que cobogós estruturais, mais espessos e porosos, permitem com muita facilidade, dando ainda mais aquele ar de futurismo utópico dos anos dourados. Já os nerds de engenharia e mecânica não podem deixar de notar as propriedades acústicas que uma parece dupla com um corredor interno pode oferecer, algo muito útil para seu laboratório ou oficina não incomodar os vizinhos e dissipar o ar viciado, e ainda dar aquele toque de estilo e aconchego ao ambiente. Mais! Qualquer pedreiro experiente e minimamente bem informado pode produzir cobogós sob demanda na própria obra! Basta ter os moldes, que ele mesmo pode fazer com caixas comuns, tubos de PVC ou qualquer outro modelo de vazamento.
O cobogó é um elemento que nenhum vintagista, especialmente o brasileiro, pode deixar de lado, muito menos por conta de preconceitos de novos ricos deslumbrados. Apesar deles, o cobogó voltou a cair nas graças dos arquitetos, agora por conta da economia de energia e peso que eles permitem, e este argumento é indiferente aos modismos.

Apesar das imagens recentes, tudo aqui remete ao clássico e vanguardista experimentalismo dos anos de ouro. Quem conheceu casas e prédios modernos dos anos 1930 a 1970, vai reconhecer seus elementos aqui. Pois é, o Brasil já foi vanguarda em muitas áreas, inclusive na arquitetura.








Foi um sofrimento escolher entre tantas maravilhas feitas com cobogós, então escolhi alguns links para vocês mesmos pesquisarem os seus;

Referências:

Alguns fabricantes:
 

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