Fonte: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-457926333-raro-zenith-4v31-_JM |
Houve
época em que imagem em 3D era truque de óculos coloridos de cinemas, que
praticamente não existiam no Brasil. Época em que cinema levado à sério, era só
em preto e branco, cinema em cores era para anúncios comerciais ou para desenho
animado. Nessa época, a mídia era escrita ou sonora, nada além disso.
Se
aos mais jovens, que nasceram filmados pela câmera de um celular, este cenário
parece aterrador, para a época era um grande feito tecnológico. Na realidade,
muito desta época ainda persiste. Apesar de todas as ameaças, o rádio vive,
vigora e ainda prospera.
Anos 20. fonte: http://www.vintageperiods.com/ |
Assim
como os computadores, o rádio nasceu valvulado. Era interessante ligar um,
porque as válvulas são como lâmpadas incandescentes, elas iluminam e esquentam
muito. Ao contrário dos rádios transistorizados, os valvulados demoram um pouco
para funcionar, porque precisam ficar quentes, igual ferro de passar roupa. No
verão ficava-se mais distante, no frio ia todo mundo para junto do rádio. Em
algumas regiões, as válvulas eram chamadas de velas; como em Goiás.
Crosley Gigante, anos 30. Fonte: http://www.cincinnativiews.net/wlw_radio_tv.htm |
Claro que o consumo de energia é tão grande quanto o calor gerado. Tanto que os primeiros rádios automotivos, também valvulados e muito caros, não podiam ficar ligados se o motor também não estivesse, sob o risco de se perder a bateria. Se ela perder mais de um terço da carga, há o risco de nunca mais funcionar direito. Eram acessórios opcionais dos carros mais caros, como Buick, Cadillac e Lincoln. Mas também, na época, tamanho era documento; rádio grande, consumo grande, mas também alcance grande e som mais limpo.
Eu
me lembro desses rádios, não os automotivos, praticamente só existentes nos
Estados Unidos, mas convivi com os domésticos. Peças muitas vezes belíssimas,
que agradavam mesmo quando desligadas. Por isso mesmo havia mais cuidado estético, na hora de comprar, afinal era algo a ser apresentado às visitas, e que os donos da casa veriam facilmente todos os dias.
Por
precisarem ser bem grandes e pesados, acabavam servindo de mobília estética.
Por isso eram feitos de madeira bem trabalhada, geralmente serviço de
carpintaria, com as telas feitas de tecidos bonitos e resistentes, que ficavam
iluminadas assim que o rádio esquentava. Um espetáculo. Caro, mas um
espetáculo.
Radio TSF anos 40. Fonte: http://www.arteslonga.com/en/objects/33-radio-tsf.html |
Foram
décadas para com o surgimento da transmissão digital, se conseguir igualar a
qualidade sonora de um bom rádio à válvula, embora nem sempre a qualidade se
mantenha... Lembrem-se, pelo baixo custo a qualquer custo, muitas marcas se
recusam a saber sob que condições suas encomendas são fabricadas. Não se pode
pedir que um funcionário maltratado faça um serviço perfeito.
O
ponto fraco de um rádio valvulado, é justo a fonte de sua maior virtude; as
válvulas. Por esquentarem muito, acabavam trabalhando como um fusível, que se
queima quando passa energia demais. Os mais abastados tinham estoques de
válvulas em casa, pois seus aparelhos acabavam ficando ligados o dia todo, por
tabela seus componentes duravam pouco. Mas o rádio em si, que tem bem mais
componentes do que as válvulas, é conhecido também pela sua durabilidade, que
costuma ser maior do que a de seus proprietários.
Mas
mesmo sendo relativamente caro, se comparado às porcarias feitas para não terem
conserto, o rádio de válvulas foi um democrata. Havia desde os (relativamente)
portáteis, que tinham uma só vela pequena e um autofalante miudinho, até os
armários de sala, com quatro grandes e caras válvulas de vidro ou mais, com
alto vácuo no seu interior, que corroborava para o alto preço. Mesmo os antigos
rádios transistorizados, feitos para terem conserto em caso de avaria, costumam
zombar do tempo e brindar o ouvinte com um som cristalino.
A
gloriosa e saudosa ERA DO RÁDIO foi o divisor de águas, entre o que restava do
século XIX, e o pleno século XX. Ela permitiu que qualquer povoado, nos rincões
mais distantes e esquecidos, recebesse notícias do mundo quase que em tempo
real. As ditaduras se esforçavam em censurar, não era à toa.
Rário-Relógio Generel Electric 1957. Fonte: http://rosalindwent.blogspot.com.br/2012/05/haul.html |
Foi
a época em que o racismo começou a ser mal visto pelas pessoas, mesmo as que
eram racistas, porque começou-se a descobrir que aquela voz ma-ra-vi-lho-sa,
aquelas palavras encantadoras, podiam ser de um negro ou um índio. É famoso o
caso em que cerca de setenta mocorongos da ku-kux-klan cercaram uma estação,
onde um negro apresentava um programa ao vivo, e levaram uma taca dos mais de
trezentos jovens que estavam no auditório. Eu queria muito ter uma máquina do
tempo, só para poder ver a cena.
Também
é famoso um dos maiores episódios de histeria coletiva da história recente, em 30 de Outubro de 1938. A Columbia Broadcasting Radio Network estava transmitindo a narração da novela “The War of The Worlds”, e foi
obrigada a desculpar-se. O narrador fez tudo com tamanho afã, foi tão
convincente, narrando como em boletins jornalísticos, que as pessoas realmente acreditaram que a Terra estava sendo
invadida por marcianos. Detalhes do episódio, ver aqui.
Murph Rário Transistor 8 1960s, Fonte: http://www.nzmuseums.co.nz/ |
Sony TR-1000, anos 60. Fonte http://www.televideo.ws/ |
Como os carros e toda a memorabilia, os rádios valvulados e os primeiros transistorizados, ficaram por muitos anos servindo apenas de ferro-velho. Os teimosos que insistiam em manter os seus, encontravam diviculdades para mantê-los, mas não se desfizeram e chegaram a acreditar, cada um, que eram os únicos no mundo a ter um daqueles. Mas havia muita gente que guardava os aparelhos, especialmente donos de velhas oficinas, onde os antigos donos deixavam os rádios, e de onde nunca mais buscavam. Vale a regra da sapataria: Se não buscar a encomenda até trinta dias depois do conserto, a peça será vendida para cobrir os custos. Só que quase ninguém queria saber daqueles rádios velhos, ainda mais com os novos, leves, econômicos e resistentes rádios transistor chegando às lojas. A obsolência foi rápida, a partir dos anos sessenta, mas a indústria de reposição e os teimosos, conseguiram preservar os rádios valvulados.
O advento do rádio-relógio, embora no começo parecesse um capricho, já que já existiam despertadores, acabou por manter a cabeça do rádio acima da água, durante o tempestuoso ataque da televisão. E acordar com boa música, convenhamos, é muito melhor do que com uma campainha estridente, que incomodará a casa inteira.
Eis que o próprio algoz, torna-se aliado e, presto! Donos de rádios antigos começam a se conhecer em feiras de antiguidades, depois em notas de jornais, depois em curtas reportagens televisivas, mas a cousa explodiu mesmo com a internet. Qualquer um pode encontrar um modelo e ano que lhe agrade e caiba no seu bolso, tomando os devidos cuidados, é claro.
Hoje, com o grosso do serviço feito, é fácil encontrar rádios antigos, especialmente nas feiras vintage e de antiguidades que proliferam pelo mundo. Também temos o fácil e perigoso negócio por sites de classificados, como o Mercado Livre. A maioria dos vendedores é honesta, mas entre estes, os malandros sabem se camuflar muito bem.
60/70s National Panasonic Rádio Relógio. Fonte: http://fish4junk.co.uk/ |
Dos antigos e charmosos rádios em estilo capelinha feitos de madeira entalhada, até os refinados de baquelite nacarada, dos anos cinqüenta e sessenta, a regra principal é: SÓ COMPRE SE FUNCIONAR NA SUA FRENTE. O que está nas photographias, pode muito bem ser outro producto de outro vendedor, ou até parde de um acervo que não está à venda. Só compre se puder ver, pegar, analisar, ouvir todas as estações que o aparelho puder receber.
Um rádio valvulado de madeira, grande e em perfeitas condições, como o Zenith 4v31 dos anos trinta, da primeira ilustração, encosta facilmente nos dois mil reais. É o caso em que compensa mandar um conhecido que more perto is ver, ou tu mesmo viajar até lá. Na volta, não seja muquirana, pague extra por um bom seguro e excesso de bagagem, para trazer o aparelho de volta consigo. Há, por exemplo, o caso de relíquias que justificam o nome, como o Crosley Giant, da ilustração, que em perfeitas condições, não tem preço, vale literalmente uma pequena fortuna. Não se transporta um desses em um caminhão qualquer, ainda menos nas nossas estradas.
Rádio Philco 70s. Fonte: http://campinas.olx.com.br/radio-antigo-anos-70-iid-460677864 |
Desconfie e fuja de preços baixos, porque um rádio antigo raramente é barato, se não for roubado ou não estiver em más condições. Quanto à manutenção, embora seja difícil, é perfeitamente exeqüível, pois ainda se fabricam válvulas, basta ter a mesma paciência que se deve ter para escolher e negociar um rádio, que vai valorizar de sobremaneira qualquer decoração, seja doméstica ou institucional.
Para quem quer apenas uma bela peça em estilo antigo, há muito que se fabricam aparelhos retrôs, que retratam todo o século XX. A maioria conta até com entrada USB, para pen-drive.
Finalmente, para quem estiver em Goiânia, recomendo a rádio que eu ouço todos os dias, a Executiva FM, 92,7 mHz. Quem gosta do que eu escrevo, vai gostar dela, Só se pede paciência, porque a distribuição eleitoreira de concessões, tornou muito difícil a sintonia manual, mas compensa, ah, como compensa!
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Radio Show Case, clique aqui.
Rádio Executiva FM, clique aqui.
Joan Crowford no rádio, clique aqui.
WLW Radio And Television, clique aqui.
A História do Rádio Joeense, clique aqui.
P.S: Desculpem pelos erros, já foram corrigidos. E o tópico ainda tem o que render, será retomado em tempo oportuno.
Belissimo post, gostei imensamente !!! Viajei longe no passado com esse post ! Sou nostálgico também ao extremo, parabéns, Nanael !!!
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