sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Doris Mayday; Minha casa, minha década


Diz o ditado, "Mais vale uma vontade do que um caminhão de abóbora". Não rima, mas ilustra muito bem a vida da jovem americana Doris Mayday. Desde os treze, quando comprou um vestido retrô cinqüentista, que é fascinada pela décda de cinqüenta, especialmente o segundo terço dela, que simplesmente rege a sua vida. A partir dos dezesseis, ela simplesmente saiu do armário e se assumiu cinqüentista em público... Um escândalo!

Se dando o direito de viver como quer, Doris transformou sua própria casa em uma bolha cinqüentista, desde a decoração, rádio, televisão, mobília, até sua indumentaria, passando pela maquiagem e até mesmo o carro, um lindíssimo Bel Air conversível ano 1955. Nenhum carro incorpora melhor o apogeu dos anos dourados, do que um Bel Air.


Fonte: Verônica Vintage
 A obsessão chega ao ponto de ela vestir sacolas plásticas, para vestir os pés no rigoroso inverno, a utilizar os sapatos de neve modernos. Prefere sentir dor, com o frio, a perder a classe. É com roupas da década que ela circula por Pasadena, na Califórnia. Seu namorado, que também é adepto do estilo de época, considera um exagero, até meio constrangedor vê-la saindo de sacola nos pés.

Seus lugares preferidos, claro, são os que já existiam na época, e os estabelecimentos com decoração retrô. A moça é freqüentadora de feiras e eventos vintage, onde encontra o seu mundo fora de casa.

Como não poderia deixar de ser, as revistas especializadas também a enxergaram como a The Pin Up Magazine, aqui, para a qual fez poses e foi estampada em páginas inteiras. São coisas que ainda não temos no Brasil, não com o profissionalismo dos americanos.

A obsessão pelos anos cinqüenta, diga-se de passagem, é algo muito comum entre os americanos. Foi a época em que o país parecia estar no caminho certo, e em que o americano típico, tido como um caipira metropolitano, tentou pela primeira vez, e com mais esforço, ser um povo gentil. É por isso que a estética já bastante refinada da época, lhes parece tão mais bela e está tão arraigada no subconsciente nacional.

 Voltando à bela... Ao contrário da maioria, que apenas gosta e brinca de vez em quando de anos cinqüenta, ela vive a época vinte e quatro horas por dia, rejeitando em sua intimidade, praticamente qualquer conforto inexistente quando então. e ela vive bem. Colecionadora de objectos da época, ela os utiliza no seu cotidiano, normalmente, como equipamento doméstico.

Um exagero, diria a maioria, mas o esmero e a naturalidade criaram um mundo autêntico. Quem viveu a época e vê Doris, a reconhece facilmente como elemento de época. Tudo em sua casa é resultado de pesquisa séria e muita paciência, algo raro em alguém tão jovem. Afinal, ela está vivendo à sua maneira, sendo ela mesma, autêntica, pagando o preço de sua autenticidade e abominando qualquer imposição da moda; vocês não adorariam que suas filhas fizessem isso? Então!

A vida que leva é mais cara, mas ela mesma se viabiliza, Doris é modelo vintage. Como pode ser visto em seu ficheiro no Model Mayhem, aqui, ela se vale de seus 64kg, distribuídos em 1,73m para ser ela mesma, e ser paga para isso. E ainda pode usar sua casa como cenário. Na coluna à esquerda de sua ficha, com seus detalhes, ela deixa claro que não faz nus. As medidas podem parecer ridículas, para a apologia à anorexia que permeia a imprensa da moda, mas aspecto saudável faz parte dos padrões estéticos da época. Ainda mais para o estilo "mulher comum", que ela encarna com perfeição, como se tivesse sido congelada em 1955 e reanimada nestes anos dez.

Há uma entrevista detalhada com ela, no Engaging Reality, aqui, feita depois que ela foi mostrada no programa My Crazy Obsession, em cujo auditório vestia um encantador vestido estampado, cor de rosa, e usava uma delicada rede azul no cabelo.

Fonte: Vestige Photography, facebook
Uma lição nós podemos tirar, da iniciativa de Doris, é sim possível viver neste mundo sem ser falso. Ela ouviu críticas, muitas críticas, a maioria fruto de puro preconceito. Mas viver a América em sua época mais esplendorosa, e em que ao mesmo tempo começara a acordar para o mundo, com todas as dificuldades comparativas ao mundo moderno, é uma atitude de respeito consigo mesma. Acreditar e não viver, já dizia o profeta, é desonesto. Este era o espírito que movia o mundo da época.

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