Uma malha ferroviária decente não é apenas uma necessidade básica para qualquer país. E não me refiro apenas a nações com médios e grandes territórios, nem os gigantes como o brasileiro, o Japão é um país pequeno e retalhado por linhas férreas que impõe respeito a qualquer nação.
As ferrovias são também um dos modos mais retrôs de se viajar. Em lenta decadência, dos anos oitenta até início deste século, estão sendo retomadas graças à cultura vintage, financiadas por pessoas que querem fugir deste mundo atormentado, ainda que algumas horas, aproveitando o que as décadas passadas têm de bom a oferecer. E é muita cousa, asseguro.
Não se sabe com certeza, mas provavelmente tudo começou quando alguém com verba, convidou amigos e/ou parentes para um passeio como na época em que era pobre. Muitos grupos passaram a alugar velhos trens para passeios diferentes, para terem algo de realmente novo para mostrar e contar aos amigos, ou simplesmente relaxar. Acontece que a cultura vintage age justamente assim, chamando as pessoas discretamente, sem que elas percebam. Quando se dão conta, já foram contaminadas até em seus alelos.
O melhor, por assim dizer, dessas ferrovias quase esquecidas, é que elas levam a localidades onde o tempo ficou preguiçoso, seja andando devagar, seja deixando alguns pedaços pelo caminho, levando a providencial ajuda financeira do turismo a cidadelas que acreditavam não ter o que apresentar. e Justo por causa do turismo, passaram a preservar aquilo que começou a atrair os turistas, dando aos jovens uma chance de prosperar sem precisar abandonar sua cidade.
Não falo dos modernos trens-bala, nem dos futuristas trens de levitação magnética já em testes, estes o primeiro mundo conhece bem. Tanto lá como cá, o desejável é a viagem em locomotivas dos anos sessenta para trás. Em um continente que ficou no fogo cruzado da guerra fria, as viagens em trens antigos relembra os europeus das agruras das guerras, e do pós-segunda-guerra, que mergulhou o continente em um mundo à parte que dura até hoje, apesar da crise que não durará para sempre.
Os Estados Unidos, do tamanho do Brasil, têm uma malha ferroviária que volta a crescer e dedica muito espaço ao turismo ferroviário. Como a cultura vintage por lá é a mais forte, os trens de época em condições de rodar também são os mais numerosos.
Isso não acontece somente no exterior, por incrível que pareça, no Brasil também existe uma letárgica, mas sólida revitalização das ferrovias antigas, por causa do turismo. Hoje, a maioria é apenas de curiosos, gente que quer paisagens diferentes, colocar photographias no facebook, que não seja de balada e bebedeira e por aí vai. Há uma minoria, porém, que não só organiza passeios afins, como faz questão de dar o ar retrô à viagem.
Um bom exemplo é a cidade de Campinas, em São Paulo, que mesmo já sendo uma metrópole, tem prédios centenários, praças preservadas e uma malha ferroviária operante, ambos atraindo turistas de todo o país. A locomotiva à vapor vai até a cidade de Jaguariúna, ida e volta duram cerca de três horas. A viagem é lenta para permitir aos passageiros o registro detalhado da paisagem, cheia de história.
Em Paranapiacaba, que todos os anos recebe a convenção de magos, bruxos e feiticeiros, tem o típico charme londrino do começo do século, praticamente dodo preservado. Lá o passeio é assegurado por uma locomotiva à vapor e vagões de madeira, da São Paulo Railway. Uma boa pedida para os elegantes steampunks.Chegar à Paranapiacaba é atravessar uma fenda temporal para a béle époque.
Ente Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, na serra gaúcha, há outra locomotiva à vapor que percorre 23km de trilhos bem conservados, passando pela cidade de Garibaldi. O trecho é conhecido como Ferrovia do Vinho, e atrai mais turistas do que se possa imaginar, especialmente na primavera e inverno, quando as diferenças climáticas tornam a região totalmente diferente do restante do país. São duas horas de um passeio calmo, mas festivo.
De Pindamonhangaba a Campos do Jordão, desde 1914, há um trem que foi idealizado para fins medicinais, para ajudar pacientes tuberculosos com o clima ameno da serra. Claro que a beleza da região logo despertou atenção e arrancou suspiros, fazendo os pacientes voltarem desta vez para desfrutar do lugar.
O Trem da Serra do Mar liga Curitiba a Morretes e Paranaguá, sendo o segundo ponto turístico do Paraná. Os 71km da ferrovia são percorridos por uma locomotiva de alumínio, modernosa para os anos cinqüenta, revelando canions, despenhadeiros, ruínas de antigas estações e muitos abismos. Aviso de antemão que Morretes é sinônimo de gastronomia, então não venham reclamar de terem ido ventindo 36 e voltado com tamanho 40.
Em 2009 foi inalgurado o Expresso Turístico Estação da Luz - Jundiaí, que se vale de uma valente e charmosa locomotiva diesel-elétrica da CPTM, com quase sessenta anos de uso. A intenção é dar uma aula de história da ferovia paulista, assim o itinerário inclui as cidades de Paranapiacaba e Mogi das Cruzes. A Estação da Luz em si é um espetáculo de engenharia da bélle époque, que dá aos memorabilistas o pontapé no clima de romantismo e serenidade que buscam.
Também de 2009, temos o Pantanal Express, no Mato Grosso do Sul. Já alertando que lá é quente como a maioria de vocês nem imagina o quanto, a ferrovia liga os 220km entre Campo Grande e Miranda, tendo como pano de fundo a complexidade frágil do pantanal. Passando por Aquidauana, a viagem dura oito longas horas, incluindo as paradas. Para quem gosta de safári photográphico, é o que temos de melhor no Brasil.
O Espírito Santo tem o Trem das Montanhas Capixabas, que leva o turista de 15m para 530m de altitude, atravessando a mata atlântica, com direito a túneis e cachoeiras. O trajeto parte de Viana, passa pela romântica Domingos Martins e vai até Marechal Floreano, a cidade das orquídeas, terminando no distrito de Araguaya.
E Minas Gerais ficaria de fora, sô?? De jeito nenhum! A Ferrovia Centro Atlântica vai de Ouro Preto até Mariana. O percursos parece ter mil quilômetros, tamanha diversidade de paisagens e número de acidentes geográphicos. São túneis, vales, despenhadeiros assustadores. Os vagões são panorâmicos, com as laterais de vidro até a curva do teto, garantindo total visibilidade e o completo desespero dos photógraphos, que vêem a paisagem nítida de ambos os lados, mas só podendo se concentrar um um de cada vez. E olha que tudo isso está concentrado em meros 18km, com duração de uma hora, aproximadamente.
O assunto é fértil, longo e ainda voltarei a abordá-lo. Por hora, fiquem com alguns links que consegui, por hoje:
Website do Uol Viagens, clique aqui.
Website da Serra Verde Express, clicar aqui.
Website da Prefeitura de Campinas, clicar aqui.
Website turístico de Paranapiacaba, clicar aqui.
Website da Tourist Trains Eorldwide, clique aqui.
Website do Guia do Litoral/Vila Velha, clicar aqui.
Website da North American Tourist Railways, clicar aqui.
Website do Expresso Turístico Paranapiacaba, clicar aqui.
Website da Estrada de Ferro de Campos do Jordão, clicar aqui.
Wensites aos montes de passeios de trens pelo Brasil, clique aqui.
Website da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, clique aqui.
Websites das prefeituras de Bento Gonçalves, Nova Petrópolis, Gramado e de Vale dos Vinhedos, clicar nos nomes.
De um modo geral, o transporte ferroviário é interessante e tem vantagens, mas eu não sou contra outros modais. No Japão, como se dirige na mão inglesa, em algumas localidades fica até mais fácil integrar o modal ferroviário em meio a trechos rodoviários, o que por aqui seria dificultado pela operação dos trens ser a única que ocorre na mão inglesa...
ResponderExcluirOs modais se complementam. Um país exclusivamente ferroviário seria um desastre de logística, em perímetro urbano.
ExcluirFerrovias são mais adequadas para atender grandes eixos e eventualmente algumas ramificações que se integrem neles, mas em outros pontos a flexibilidade de estabelecer rotas de acordo com a necessidade é mais favorável ao transporte sobre pneus.
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