quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Minha Kombi, meu pão de cada dia

Kombi de Ronay Andrada, presidente do Clube de Veículos Antigos de Goiás.
  Ainda mais do que o virtualmente indestructível Fusca, a Kombi é um dos (se não o) carros mais versáteis de toda a história. Chegamos a ter um fabricante de kit para tração 4X4 que se tivesse vingado, seria a humilhação suprema para os jipes.

  Um carro tão versátil não se furtaria o direito de ser também um ganha pão. Pois muita gente pelo mundo modifica suas Kombis para driblar o desemprego, ou simplesmente para não depender de um. As vantagens são imensas:

  1. É um veículo relativamente barato. Mesmo com todas as despesas legais, pode sair mais em conta tirar o alvará de ambulante e transformar a Kombi em uma lojinha, do que abrir uma banquinha com endereço fixo em alguma esquina, com  a vantagem extra de poder levar seu negócio para onde o público está, como um evento retrô vintage, por exemplo;
    Fonte: Fine Art America
  2. Cabe em qualquer lugar. Mesmo a última, com seus 4,5m de comprimento, é um veículo considerado pequeno, com um raio de giro idem e com excelente visibilidade, por ter o motorista em posição avançada. Isso facilita muito as manobras de estacionamento, apesar de a versão nacional nunca ter contado com direção hidráulica, que pode ser instalada. Enquanto os caminhõezinhos coreanos, mais largos e longos, procuram por uma vaga, aquela logo ali pode te servir bem;
    Fonte:Split the Difference
  3. Custo de manutenção muito baixo, mesmo a medonha última Kombi com aquela máscara de jason na frente. Mesmo ela usa uma mecânica muito robusta, confiável e fácil de consertar. A maioria das demais peças foi fabricada por décadas e o mercado está repleto delas, originais e paralelas de primeira qualidade, feitas pelos próprios fornecedores que só têm o cuidado de não colocar o logo VW nelas;
    Fonte: Auto Classic
  4. Espaçosa. Uma propaganda antiga dizia que a Kombi é um espaço sobre rodas, pois é a pura verdade. Sim, seu sei que as novas vans de tração dianteira têm mais espaço, mas são muito mais caras, com manutenção muito mais onerosa e todas as limitações da tração dianteira. Em uma Kombi cabem tranqüilamente uma mesa central e dois sofás, mais a decoração e logo atrás uma mini cozinha, o estoque pode ficar em uma caixa térmica na frente mesmo;
    Customização sem limites!
  5. Fácil de adaptar. A versatilidade do bom e velho Pão de forma permite uma leque imenso de customização. Permite até mesmo um teto elevável, para permitir que, com o carro parado, o cliente possa ficar confortavelmente em pé, o que é particularmente útil se o negócio escolhido for moda, já que as roupas poderão ficar penduradas;
    Kombi lojinha oficial do Volks Clube de Goiás
  6. Motor traseiro. Isto aliado à grande distância entre o solo e o chassi, permite que ela atravesse quase qualquer terreno, mesmo muitos atoleiros, dando acesso a comunidades isoladas ou fazendas distantes, onde uma festa tradicional esteja acontecendo. Com tração dianteira simplesmente não dá, especialmente se precisar subir rampas com baixa aderência, e as vans com tração traseiras custam muito caro!
    Kombi oficial da banda retrô Túnel do Tempo
  7. Carisma. mesmo quem não gosta da Kombi, gosta da Kombi. Ela por si já chama atenção, qualquer adesivo, qualquer letreiro, qualquer pintura diferente, qualquer toldo estendido já a destaca na paisagem, chamando a clientela com eficiência. Mesmo quem não gosta dela se aproxima, quem gosta dela é cliente quase garantido. Imagine então uma Kombi como lojinha de miniaturas, inclusive de de Kombi!


  Apesar da má fama causada pela mangueira de combustível das antigas, uma manutenção constante previne qualquer problema. Aliás, no cofre do motor há espaço para uma caixinha de ferramentas e outra de peças de reposição, é tudo uma questão de arquitetura.
Fonte: Flickr Chimay Bleue
   Aos que se animaram, vão algumas dicas para não ter mais problemas do que os cotidianos:

  • Siga todas as regras possíveis para a compra de um carro usado. No caso das mais antigas, com motor do Fusca, espere ele esfriar, vá à polia do virabrequim (aquela rodona na parte de baixo que faz a rodinha do alternador girar) e sacuda, se houver muita folga é sinal de que precisa de retífica, talvez até trocar componentes importantes. Verifique a tubulação de combustível como quem lê a própria sentença de morte, para ver se encontra alguma falha que possa te safar. Se não conhece mecânica, não economize, leve um técnico;
  • Na hora de equipar, deixe as peças pesadas na parte mais baixa, isso vai ajudar a estabilidade que sempre foi crítica em um carro alto e leve. É um carro de mil quilos que leva mil quilos;
  • Troque os freios por outros mais potentes e tenha mais atenção com a calibragem dos pneus, afinal a sua Kombi vai andar sempre com carga, todo o conjunto será mais exigido, por isso mesmo também aconselho utilizar um limitador de velocidade. Lembre-se, é uma empresa, não um carro de passeio, muito menos um esportivo de performance;
  • Se for abrir um vão no teto para fazer um elevável, use outro teto original, com guarnições de borracha no perímetro, isso não só facilita a modificação como assegura uma vedação de boa qualidade;
  • Consulte bons fóruns na internet, eles têm mais especialistas por página do que todas as revistas nacionais especializadas em automóveis juntas, é gente que mexe no cotidiano, que descobre e compartilha soluções, que está actualizada e ainda pode render excelentes idéias para a customização de tua Kombi.
  • Prefira as antigas, com teto baixo, elas são muito mais baratas e têm mais apelo emocional, além de haver muitas em excelente estado de conservação, prontas para virarem CNPJ. As mais antigas, chamadas de Jarrinha, Corujinha, Biquíni, etc, demandam mais cuidado não só pela idade, mas também porque não têm aperfeiçoamentos de segurança e potência que o modelo 1977 recebeu;
  • Pelo menos uma vez por ano desmonte o que for possível da lojinha para uma manutenção profunda, para isso seria útil e agradável essa manutenção coincidir com as férias. Normalmente uma semana é suficiente para a kombi voltar como nova de um bom centro automotivo.


  Não vou dar dicas de que negócio devem abrir, isso demandaria vários textos que mesmo assim não esgotam o assunto. O que posso aconselhar é que não tente encontrar um ramo que dê dinheiro, isso é para aqueles tipos que naufragam na primeira crise brava, encontre um ramo que te agrade e se aperfeiçoe para torná-lo lucrativo, isso pode ser conseguido com consultas e cursos no Sebrae, pesquisas de exemplos que deram certo, até mesmo os que deram errado para servirem de lição.

  Se o negócio que tens em mente for de artigos retrô vintage, uma lanchonete temática, lojinha de miniaturas ou de moda, de auto peças para antigos, quadros e placas retrô e afins eu só peço um favor: Faça uniformes no espírito do negócio. Pode parecer só um capricho, mas faz uma diferença enorme no contacto com o público e atrai uma empatia que os uniformes padronizados não têm. Isso também ajuda a divulgar e dar boa fama à cultura retô-vintage que ainda é muito bem vista, pode render até pedidos para photographias com os clientes!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Um encontro de veículos antigos em Goiânia


Thunderbird 1955, diante dos sócios do CVAGO


    Ainda no íngreme declive para o Cepal, vi o Puma do Mineirinho pegar a Rua 83 para o interclubes. Ágil e rápido demais para eu ter tempo de empunhar, ligar, mirar, focar e disparar a câmera; que já está obsoleta, demora mais para acordar. Se eu, que estou acostumado, ainda me encanto, imagino os motoristas em seus carrinhos iguais, vendo aquele conversível passando por eles!

O Puma do Mineirinho

    Cheguei pela calçada oposta ao decrépito Cepal do Setor Sul, na rua 115, já encontrando o habitual Fusquinha 1300 verde, com rodas de Xsara Picasso. Chegando vivo ao outro lado, dei de cara com a Kombi Jarrinha alvi-rubra do Matias, com que ele transportou a singela memorabilia que estava à venda. Algumas peças mereceram mais destaque, como um PABX dos anos sessenta ou setenta, ainda usando chaves para transferência de ligações. O povo nem sabia o que era, mas ficou encantado. Tempo em que ainda se ligava e pedia "Telephonista, ligue-me com Doutor Peebles". Também levou mimos decorativos, além das tradicionais peças que sabe-se lá como ele consegue! Dizem que tem um verdadeiro museu em casa!

    Adentrei enquanto photographava os Fuscas do Volks Clube. A tenda dele estava lá, no meio dos tedescos, exibindo a organização minimalista e acolhedora de seus sócios. O clube tem o senso de civilidade de oferecer lixeiras com seu emblema, para que sócios e público não precisem enfiar seu lixo no bolso. E vejam os milagres do antigomobilismo! O povo evitava mesmo jogar seus lixinhos no chão ondulado de asfalto do Cepal!

    Desta vez houve música ao vivo. Beto Senador levou um amigo cantor e tivemos momentos com Jovem Guarda e clássicos italianos. Era uma cena pitoresca ver aquele senhor cantando em italiano bem diante dos Pumas, do Puma Clube, que foram inspirados na Alfa Romeu Spider dos anos sessenta e setenta. Não perderam seu brilho por haver três Corvettes logo ao lado. Nem o Fusca 1960 se acanhou diante deles, que dirá os atrevidos Pumas!

Fusca 1960

    Aliás, os três do acervo do CVAGO, presidido pelo Alexandre de Jesus. O clube é o organizador do evento e coordenador dos demais no local. A batuta da sócia Márcia garantiu um café diversificado, com quitandas, café e sucos, asegurando a presença precoce dos associados. Ela acertou em cheio, os sócios se aglomeraram e conversas animadas se deram ao redor da mesinha. Bem ao lado, o Thunderbird 1955 com kit continental, em que o estepe fica do lado de fora, mas sem a altura desnecessária dos cafonas SUVs.

Ford Model A 1929 (primeiro plano) e 1930
    O maior encanto de um evento assim, no entanto, é a presença maciça de famílias inteiras. As crianças corriam serelepes aos mais antigos, como o Ford A Two Door 1930 do Elísio, que para elas deve ter um aspecto de brinquedo... Não é totalmente fantasioso, 72km/h não fazem frente nem aos 155km/h da finada Kombi. Mas como ele e o Ford A Phaeton 1929 (Ford Bigode) em fase de restauração, ao seu lado, fizeram aqueles olhinhos brilharem! Não só as crianças, mas as moças também, fazendo lembrar a saudosa música do Roberto. Ambos, como deve ser com qualquer automóvel, andando normalmente, dando de ombros para o trânsito e os buracos das ruas.

A quem não conhece, esta é a Vespinha
    As Lambrettas e Vespas finalmente voltaram a freqüentar o encontro mensal. Fizeram falta com seu charme lúdico, quase pueril, e seus pipocantes motorzinhos dois tempos. Também pareciam ser de brinquedo, com suas linhas suaves e quase maternais, especialmente a pequena Vespa. Mal passando de 80km/h, podem facilmente ser entregues a um principiante. Além de suas carenagens e posição de dirigir, sem um tanque no meio para obrigar a viajar montado, permitirem o uso de saias mais curtas sem sustos. Fora a existência do estepe e a facilidade para se trocar um pneu! Imaginei a amiga New em uma delas. Apesar do capricho, seus donos permitiram sem medo que os visitantes se sentassem nelas, para uma photo. Camaradagem faz parte do pacote, os sorrisos dos petizes também.

Opala de Luxo 1972
Zundapp
    Os opaleiros do Opala Gyn e Opaleiros de Goiânia também compareceram, animados e numerosos como sempre, exibindo o padrão de qualidade que a Chevrolet do Brasil um dia teve. Quando terminei de photographar um já raro e lindo Opala 1972 De Luxo, vermelho com teto de vinil, onde duas pequerruchas brincavam e conversavam na sala de estar que é o interior daquele carro, fui ao estacionamento e veio o simpático amigo Bariani puxar conversa.
Ele apareceu com sua belíssima e robusta Zundapp 1950, que deixou à disposição do público para apreciação detalhada. E haja tempo para apreciar tantos detalhes quase inexistentes nas motocicletas de hoje! Em vez de corrente, por exemplo, ela usa eixo cardã para a tração, como no Opala. A alemã chamou mais atenção da juventude do que as modernas e berradoras esportivas de dez mil rpm, que eram várias no estacionamento, naquele domingo. Mesmo roncando alto, na saída, foram ignoradas por quase todos os admiradores das antiguinhas.

Para quem tem saudades dos glamourosos motores V8, eles também estavam presentes, aos montes, tanto no CVAGO quanto no União V8, que voltou a ser regular nos encontros. O ronronar dos Mopar brasileiros encheu o ambiente, com a força bruta de quem não precisa de injeção eletrônica para empurrar um carro grande e pesado em reles marcha lenta.

    Havia ainda um rapaz expondo e vendendo miniaturas de boa qualidade e detalhismo, algumas raras no Brasil, mas também as populares e estranhas Hotweels, que venderam bem. Eu vi um pai coruja comprar duas de uma só vez. Vender bem, diga-se de
passagem, é um dos atrativos e motivos para os pequenos comerciantes prestigiarem eventos vintage e retrô como este. Mesmo com a boca livre nas tendas do CVAGO e do Volks Clube, quem foi vender lanches e acepipes não se arrependeu, mesmo os com carrinhos de picolé. Eles dividiam as atenções das crianças com os carros, as motocicletas e a memorabilia. Era como uma mini loja de brinquedos no evento, a garotada encheu os olhos. Lá precisei ter paciência, não se pode simplesmente dizer a uma criança para sair da frente de um brinquedo!

   Como há muito não acontecia, o evento foi bastante coeso. assim como a maioria chegou em horários bem próximos, a hora de terminar também foi bastante homogênea. Perto das treze horas as barracas estavam sendo desarmadas, os bólidos começavam a ir embora e as pessoas voltavam para casa. Estas, principalmente as crianças, com um monte de coisas boas para contar aos colegas na segunda-feira.

    Domingo, dia 27 de Abril, tem mais. Cepal do Setor Sul, a partir das nove horas. Entrada franca e sincera para os admiradores da cultura retrô e vintage.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A cultura vintage nascente em Goiânia

A bela e nascente juventude vintage goianiense.

No último domingo foi plantada uma sementinha vintage na amargurada cidade de Goiânia. Outrora rica em art déco, deliberadamente abandonada e vendida à especulação pela prefeitura, a capital teve um evento que pode ser o embrião dos festivais vintage que há nos Estados Unidos e na Inglaterra. Claro, não espero que consigamos toda aquela magnitude, mas vier a ser tão bem sucedida como as muitas feiras que povoam os fins de semana da cidade, estaremos no lucro.


O Segundo Encontro de Bicicletas Antigas de Goiânia, feito com a colaboração do Volks Clube de Goiânia, e os competentes e simpáticos amigos Sérgio Anos Cinqüenta e Sérgio Fuck The Factory, teve um brilho que denunciou as ambições do evento.

Além das Göricke, Philips, Monark, Caloi e outras bicicletas de marcas quase desconhecidas em terras nacionais, de encher os olhos, muitas da época em que bicicletas eram emplacadas. O mercadinhos de pulgas e antiquários levou uma variedade e qualidade de peças que até então não se imaginava haver na cidade. Belezas como um elegantérrimo rádio Philco valvulado, estavam à dispósição para apreciação, e alguns até para venda. O rádio, para quem ficou com água na boca, lamento, mas encontrou quem pagasse lá mesmo os R$ 850,00 pedidos pelo Matias. Mas havia muito mais, com ele e com outros expositores.

Um dos charmes arrebatadores foi um mini bar rockabily montado pelo Fuck The factory. Estilo anos cinqüenta, como os bares americanos de beira de estrada que atraíam
caminhoneiros e motoqueiros renegados naquela época, dando muito pano pra manga em Hollywood, tudo feito com o capricho de quem sabia o que estava fazendo.  No balcão havia a grade de um Galaxie 1969, para dar o ar de bar estradeiro, na pequena estante atrás, belas peças de época, como um rádio da segunda metade dos anos cinqüenta, um abajour de época e um gramophone maravilhoso, ao lado dele um tímido e singelo toca-discos portátil, do fim da década. A quantidade de detalhes simplesmente não caberia em um só texto, mas acredito que vocês já têm uma idéia do que eu presenciei. Se fez sucesso? Com venda real de bebidas, as mesinhas ficaram todas ocupadas. Vejam só, venderam bebidas e nem por isso houve confusão! Ah, esse mundo de hoje só é moderno no verniz, sob este é apenas uma reedição da antiguidade bárbara.

Em frente ao bar, um festival de duas rodas de fazer infartar os amantes de motos antigas. Três belas Lambrettas, uma indefectível Zundapp, Duas robustas BMW com transmissão por cardã, uma rara Matchless inglesa, a clássica e perigosa Yamaha 650, a furiosa Honda 750 Four "Sete-Galo", três singelas Garellis dignas de placa preta, além de gente passeando de bicicletas clássicas pela área do Cepal. Os selvagens das motocicletas surtariam com a cena. O que mais impressionava os neófitos, é que todas chegaram e foram embora pela força de seus respectivos motores, enchendo o ambiente de uma sonoridade que o excesso de rotações por minuto das motos modernas, nos nega todos os dias.


Com o tema "rockabily", o ambiente foi preencido com músicas de época, dos anos cinqüenta e sessenta, estrangeiras e nacionais, até antes da Jovem Guarda. Diga-se de passagem, o volume era bem confortável, na medida para todos ouvirem as canções sem ter que gritar para ouvirem uns aos outros. Ah, como tem gente precisando aprender esta regrinha simples de civilidade! Gente que incomoda o bairro todo e se faz de vítima perseguida.

Todas as músicas eram dançantes, alegres, que estimularam os jovens presentes, inclusive a adorável filha do nosso barman, vestida a caráter em seu vestido preto de bolinhas. Ela, uma amiga de saia azul rodada e dois rapazes com cabelos ala James Dean.

VENDIDO!
Carros antigos também, é claro, alguns no estilo rat-rod, vomo um belo Opala coupé e um imponente Galaxie 500. Além, claro de Fuscas, uma Variant, Opala Comodoro com capota Las Vegas, Coupé, Ford Corcel II, Dodge Dart, um raro Corvette Aniversary 1978, um impressionante Dodge Custom Royal com suas marcas temporais, duas gerações de pic-ups Ford F-100, duas Kombis Jarrinhas, um desbunde que ninguém esperava, mas aconteceu.

Incidentes? Nenhum. Nenhum mesmo! Todos os que foram querem voltar à próxima edição, cuja temática será "Elvis Presley", que chegará em em Cadillac conversível cor de rosa, que compareceu ao evento. Compareceu e roubou as atenções, foram dezenas de visitantes e expositores fazendo fila para uma photographia a bordo. Alguns detalhes denunciavam a idade, mas nada que lhe tirasse a beleza opulenta, nem que um trato não resolva. O funcionamento do carro e sua capota, estava impecável, tanto que ela foi baixada com ele em movimento, no meio do trânsito.


Nem a dor de cabeça que o calor vulcânico causou, ofuscou a satisfação que o testemunho naquele evento me proporcionou. Com toda certeza, os participantes e visitantes menos sensíveis ao clima, simplesmente amaram tudo aquilo.
Uma linda e robusta Göricke.

A quantidade de crianças absolutamente encantadas com o ambiente e seus detalhes, era de se perder a conta. Diante das bicicletas e velocípedes que poderiam ter sido de seus avós, talvez até bisavós,  elas ficavam extasiadas, querendo levar para casa. Pena, a maioria era só para exposição mesmo. Apesar dos sustos que os petizes sempre dão, disparando à menor distração de seus pais, nenhum se machucou. Havia adultos atentos, muitos adultos que viam neles os seus próprios filhos, até netos.

Os resultados práticos, que financiam nossas extravagâncias, foram satisfatórios, a ponto de todos terem dito que quem não foi, perdeu; não só dinheiro e não só entretenimento, mas ambos. Fisgar o cérebro, o coração e o bolso ao mesmo tempo, é uma das faculdades mais desenvolvidas da cultura vintage. Esperamos que com este evento bimestral a história se repita, e a circulação de capital faça seu trabalho. Ah, os tempos em que o dinheiro trabalhava para comprar coisas e serviços, em vez de comprar promessas futuras de mais dinheiro... A bolha imobiliária americana deu a lição.

Tudo durou das dez ás treze horas, tempo estimado pelos organizadores para um evento coeso e de acordo com a estrutura disponível. A conta fechou redondinha, mas os próximos vão demandar um pouco mais de investimento, porque a propaganda boca a boca começou lá mesmo. Só a estrutura do lugar poderia ter sido melhor, mas é o máximo que um evento cultural sem potencial político consegue do governo. Conseguir aquele espaço já foi uma vitória suada!

Caros leitores, foi lindo! A juventude no que ela tem de bom estava lá, prestigiando e se contaminando com a infecção vintage, para a qual não há cura. Espero sinceramente que meus amigos vintagistas de outras partes do mundo, um dia possam pegar uma publicação especializada e com um festival vintage de Goiânia.

Se vocês não imaginam dois jovens cheios de testosterona cumprimentando a namorada um do outro, sem sair briga, é porque nunca foram a um evento de antigomobilismo e memorabilia, como foi este. As pessoas passam a ter outra noção do que é liberdade, e usufruem dela como nenhum viciado em permissividade consegue da sua. Tudo o que os anos cinqüenta tiveram de bom, estava em pequenas doses naquele pequeno evento. Pequeno, mas indemovível em sua seara de crescer, florescer, frutificar e reflorestar Goiânia com o passado de beleza e esperanças no futuro, que nem faz tanto tempo que foi amputado.