quarta-feira, 27 de junho de 2012

Vida retrô - Adoçando a boca


Para muita gente, ser vintage não basta. Usar roupas típicas dos anos sessenta, como eu, é fácil, desde que se tenha um bom alfaiate, e eu tenho. Utilizar graphias um pouco mais refinadas no cotidiano, não custa um centavo sequer, tão somente demanda vontade firme e treino, quando se vê, já se está pronunciando o "ph" diferente do "f". Ouvir Beatles, Elvis, Charles Aznavour, Carpenters, é simples questão de bom gosto e saber onde encontrar, tarefa facílima.

Para muitos, viver o estilo não é suficiente, é preciso viver no ambiente vintage. Eu, se tivesse bala, também viveria. Isso vai desde decorar a casa com cores e cerâmicas tíócas dos anos quarenta e cinqüenta, por exemplo, até contruir um drive-in na sala e posto de gasolina de época, para usar como garagem. Varia com o poder aquisitivo, claro.

Para não assustar os leitores, esclareço que nem tudo é tão caro. É relativamente simples e financeiramente exeqüível, transformar uma geladeira ruim em uma réplica de bomba antiga de gasolina, basta conhecer um funileiro de mão cheia e ter um modelo em mãos. Um resultado satisfatório pode ser conseguido pelo preço de uma geladeira nova, e a função de preservar os alimentos fica preservada. Ou simplesmente servir de armério de ferramentas, na garagem.

Com apliques de madeira laminada e tecidos decorativos, uma sofisticada, mas sem-graça, televisão de led ou plasma fica parecida com charmosas tevês de gabinete de madeira e telinhas de auto-falante. Havendo a prudência de se colocar uma bateria para se prevenir das oscilações e quedas de energia, faz-se um gabinete para unir o aparelho e sua fonte de autonomia, mais o transformador, unindo as boas características de duas épocas.

Uma garagem com espaço suficiente, pode abrigar um mini diner, com imitação juke box, fácil de ser feita por qulquer artesão, além de menu e cartazes de época, fáceis de se encontrar na internet, para imprimir sem custo. Um bom quintal, embora cada vez mais raro, pode servir de cinema drive-in, nos fins de semana, à noite. As roupas das garçonetes também são facilmente encontradas, bem como os patins de dois eixos.

Uma juke box em eprfeito estado não sai por menos de US$ 5.000,00, além de as de época não serem para todos, pois não se fabricam mais. Mas modelos modernos, com todas as funções das antigas, mais entrada para dispositivos digitais, são feitas sob encomenda no Brasil. A Juke Box Brasil cobra de R$ 3.400,00 até R$ 13.000,00 por um de seus modelos, dando dois anos de garantia. O website é enxuto e extremamente charmoso, com os cinco modelos em exposição e pin-ups em fundo de danceteria de época.

Mas há gente com verba, espaço e apoio da família, que faz de sua casa um pedaço de tudo o que uma época tinha de bom. É o caso de gente como Mark Reiff, que foi entrevistado por Ge Ferreira e virou destaque da revista Classic Show n° 57. Apesar de algumas mancadas do passado recente, continua sendo a melhor do gênero no país. A frente da casa do simpático americano de Woodland, Califórnia, foi transformada em um posto avançado dos anos cinqüenta. Seu lema: My house, my museum.
A frente da casa tem todas as características de um posto de gasolina de época, com duas bombas de gasolina, geladeiras, uma lanchonete de verdade e um boneco de fast food de época no telhado.
Na garagem, seu corvette C6 divide espaço com dezenas de bombas antigas, havendo ainda um espaço pitoresco com mobília de época e bar, além de muitas miudezas. Claro que o lugar virou atração turística, a ponto de hoje poder ser alugado para eventos. Viver como se gosta e ser pago para isso? Sujeito de sorte!

Mais longe ainda foi Fred Stok, que transformou seu sítio de cerca de 4.000m², em Santa Rosa, numa cidadezinha dos anos quarenta e cinqüenta. Ele é mecânico e fabrica hot-rods, profissão que o fez unir o útil ao agradável. Prosperou preparando motores para carros de arrancada, inclusive dos anos iniciais dos dragsters. Décadas de trabalho árduo depois, ele tem postos de gasolina com bombas dos anos quarenta, loja de conveniência cheias de latas de óleo de várias marcas e épocas, caminhão-tanque de época, inclusive dois Ford de bombeiros, um 1947 e um 1946 que pintou de rosa, para sua falecida esposa. O lugar costuma sediar eventos, principalmente de antigomobilistas, e enche. Decerto que este é um caso extremo, em que o cidadão reconstruiu uma época  e se cercou dela, o que custa muito caro.

E já que toquei no assunto, existem alguns poucos cinemas drive-in pelo Brasil. Um deles fica em Brasília, em área central, com capacidade para cerca de quinhentos carros, e adaptações de acessibilidade que não eram cogitadas na época de ouro desses cinemas. A tela é de concreto, bem maior do que a maioria das casas residenciais, com 312m² de área útil e projector de xenon; nada do que não se utilizaria na época, se então existisse. Localiza-se na Área Especial do Autódromo, Centro Esportivo Presidente Médice, Asa Norte. Não tem como errar, há poucos drive-in em Brasília...

Para quem gostou e deseja colocar a idéia em prática, mas não tem verba para reproduzir o Rio de Janeiro de antes da transferência da capital, sugiro começar pelo quarto, com cortinas, tapetes e roupas de cama temáticos. Não são tão difíceis de encontrar e não custam os olhos da cara. Se der, a cozinha pode ser facilmente transformada em uma lanchonete, apenas na aparência, mas é melhor do que nada. No fundo, o que muita gente busca no estilo é se cercar de uma época cujas turbulências já passaram, para se preservarem das turbulências da era do cinismo, pelo menos em suas casas. Para isso, a custos relativamente modestos, a decoração no estilo basta.

Website de Mark Reiff, clicar aqui.
Website do Cine Drive-in, clicar aqui.
Website da Juke Box Brasail, clicar aqui.

2 comentários:

  1. Caramba, que coisa linda!! C acredita que me lembro na infância que meu avô tinha uma dessa TV com gabinete? é muito legal lembrar disso! Beijo querido! Vy

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