segunda-feira, 28 de maio de 2012

A arte de ser vintage - 01


Devo lembrar que não estou estimulando directamente, tampouco tentando obrigar todo mundo a se vestir e a agir como eu. Este blog é para as pessoas que gostam do jeito vintage de ser e têm poucas opções em português. É para elas que escrevo, então não se sintam atacados seja de que forma for. Certo? Vamos lá.

É estranho, embora eu tenha um mínimo de conhecimento de psicoterapia para compreender isso, como as pessoas mudam seus conceitos de acordo com o que esperam dos outros.

Os mesmos que falam mal de minissaias curtíssimas (embora seja possível usá-las sem vulgaridade, veremos abaixo), das quais não tiram os olhos, são os que repelem as fartas saias esvoaçantes. Para esta, o argumento é a praticidade. Meia-boca, mas não seria da minha conta se as pessoas não reclamassem chatonildamente de eu só usar calças de alfaiate, e não ter um só jeans no guarda-roupa. Nem bermuda.

Vamos por partes. Para começar, eu não gosto de jeans, não é confortável para mim, não interessa a marca ou a modelagem, não gosto de vestir o tecido. Só gostei dele no Chevette Jeans, mas infelizmente não vingou. Até o brim, um primo mais rude, me agrada mais do que o jeans. Mas as pessoas insistem e decretam que eu não uso porque não me acostumei... Passei muitos anos desempregado e fui obrigado a usar aquela trolha têxtil, quando me vi reempregado, não hesitei em doar tudo e só usar o que o meu alfaiate faz.

Praticidade? Bobagem! Só em cabeças muito pequenas a roupa social (como dizem) não caberia em qualquer ambiente. Provavelmente isso é propaganda das fábricas de jeans, que usam mão-de-obra semi-escrava sem hesitar, para baixar seus custos, mas jamais os preços. Minhas calças não são folgadas, mas também não grudam nas pernas. Eu ando livre, quase sem sentir o tecido, e a ausência de tachinhas e ilhoses me permite sentar sem medo em qualquer lugar, sem medo de estragar uma poltrona cara.

Preço? Tenho peças com dez anos de uso normal, que custam um terço do preço de um "jeans super bem cortado que veste super bem, tá, super na moda, tá" com qualidade e acabamento similares. E outra: Eu escolhi os tecidos, as padronagens e até a configuração das alças do cinto. Ninguém tem calças e camisas exactametne iguais às minhas, não sou padronizado como os visuais da moda. Sabem quanto custaria customizar essas roupas de grife, para terem o mesmo padrão de identidade? Não? Nem eu! Nem me interessa, não vou comprar.

Voltando às saias, fiz um artigo no Talicoisa para incentivar o bom uso da mini saia, que vocês podem ler clicando aqui, para depois continuarem a leitura deste. O problema das saias de hoje, é uma combinação triste de corte e tecido. Os cortes são, parece até que é lei delegada, feitos para a mulher sair e matar. Não se faz mais mini saia pret-a-porter para a moça combinar peças e ser ousada. Aliás, nas cabeças ocas de muitos ex-tilistas, não há diferença entre ser ousada, ser convidativa e ser oferecida, eles só fazem roupas curtas para a terceira opção.

Vocês acham prático ter que abaixar a saia a todo momento, porque a barra sobe a cada passo que se dá? Parece-lhes prático ter que puxar o cós da calça rego à vista, que só não desce se for aquela que estrangula os quadris e acelera o aparecimento de estrias e varizes? Que raios de praticidade existe aqui, podem me dizer?

Mary Quant - anos sessenta
Quando Mary Quant (esta aqui) criou o conceito moderno de mini saia, porque ela já existia há muito, só não era utilizada normalmente, o padrão de elegância ainda era (mesmo inconsciente) ligado à anatomia humana: se o cós desce, a barra (seja da saia ou da blusa) desce; se a barra sobe, o cós sobe. Simples assim. E foi nesta simplicidade que Twig (esta aqui), com sua carinha meiga e travessa, convenceu muitos pais e mães de que uma moça bem comportada poderia usar roupas não tão comportadas, se soubesse se portar.

Acontece que os cortes eram feitos para se ajustarem ao corpo, não para apertá-lo. Mesmo as saias coladas deslizavam fácil, até porque não havia a facilidade de deslocamento de hoje, era plausível uma moça rica ter que andar um ou dois quilômetros à pé, o que uma saia apertada demais tornaria um suplício. Da mesma forma, uma saia esvoaçante e mais longa nunca foi empecilho para ninguém. Lembrando que em sua era de ouro, não existia o conceito moderno de ergonomia, as mulheres simplesmente usavam as mãos para evitar um incidente, trazendo a saia para junto do corpo, e seguiam. Elas terminavam o dia com ela razoávelmente limpas, dentro da realidade de cada uma, é claro.

Aliás, para quem está com problemas nas pernas, como pêlos indesejáveis que não se pôde depilar a tempo, uma variz ou estria muito aparente, um desfiado na meia-calça, enfim, cousas às quais toda e qualquer mulher está sujeita, uma saia média ou longa, esvoaçante é uma dádiva, porque te dá a liberdade  de andar a pessoa largos sem mostrar o que não queres.

Vamos recapitular?
Twiggy - anos sessenta
Para saias, calças e shorts: Cós desce, barra (da saia e da blusa) desce. Barra sobe, cós sobe. Se o cós subir e a barra descer, até o limite do utilizável, o sinal é eternamente verde. Também há o decote, que merece especial atenção. Se ele desce, a barra desce e o cós sobe, ou fica no mesmo lugar, se já for alto. Moralismo meu? De jeito nenhum! É só uma dica de pra-ti-ci-da-de, para que vocês não precisem se preocupar com a roupa, no seu cotidiano. Isso faz parte de ser vintage, asseguro que não dá absolutamente nenhum trabalho... Além de lavar, secar, passar e acomodar no guarda-roupa... Nada é perfeito, mas dando conta do recado, está de bom tamanho.

Com o individualismo sendo confundido com privacidade, mães e pais não têm mais tanta liberdade para repassar suas experiências edificantes aos filhos, até proque muitos não receberam de seus pais, então fica fácil pecar pelo excesso e pela falta de ousadia, mesmo aqueles que têm uma ousadia salutar a oferecer ao mundo. Para quem tem dúvidas sobre comprimento e altura do cós, sobre um macete confiável para não ultrapassar (há os querem, mas não são meus leitores) limites que não precisam ser ultrapassados, vai uma reflexão que vale para todas as áreas da vida:
Aquele que se aproxima do abismo, desafiando seus próprios medos e mantendo a distância prudente de suas possibilidades, é ousado. Aquele que consegue andar à beira do abismo, sem jamais ter menção de cair, se abaixando ou afastando dele para respeitar o vento, é um herói. Aquele que se atira no abismo sem real necessidade, só pra desafiar a morte, é um estúpido.




Para quem quiser, Twiggy ainda vive e continua lindona. Seu website oficial é este aqui.
O website oficial de mary Quant, também viva e activa, é este aqui.

5 comentários:

  1. Adorei!! Tenho até algumas sugestões bem legais pra te fazer sobre esse blog genial, mas agora tenho que sair correndo pra buscar a filhota no serviço que tá muito frio. Estou querendo te seguir desde ontem, mas meu navegador acordou com a b... descoberta e eu não estou conseguindo. Vou continuar tentando... Olhando pra Twiggy, nossa... nem vou "me" comentar. Minha mãe já tinha dito isso!... Beijo! Vy

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  2. Sugestões de fadas são bem-vindas 8-)

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  3. Então, estive pensando... como o estilo vintage está voltando com tudo, seria legal se você pudesse compartilhar alguma coisa sobre decoração. Tem muita coisa legal pra ver e compartilhar e a mulherada adora! Os carros são bacanérrimos, porém não é um assunto tão "feminino" quanto decoração. Já viu as geladeiras, fogões e banheiros decorados com aqueles azulejos combinando azul e preto? Nossa! Vai bombar!! Pensa e depois me fala, tá? Beijão Mago! Vy

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    1. Boa idéia. E já sei até onde encontrar links para gente que restaura geladeiras antigas.

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  4. Só para adoçar tua boca: http://www.geladeirasantigas.com.br/

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